Um conto sobre pai e filho e uma lua brilhante
16 de janeiro de 2011
Estávamos em um campo ao norte da América. Decidimos viajar
em família e tirar um merecido descanso depois das bagunças do fim de ano.
Então, nos hospedamos em uma casa perto de uma lagoa, onde tem árvores que
balançam ao vento e pássaros cantando à luz do sol. A tarde já chegou, e meu
pai me leva até o balanço no jardim. Não passamos muito tempo juntos por causa
do trabalho dele. Normalmente, são raros os dias que podemos sentar à mesa e
falar como foi nossa manhã
Eu completei nove anos há duas semanas e não houve
comemorações por causa da correria do dia a dia, mas resolvemos tirar uma
semana de nosso primeiro mês do ano para ficar juntos. Meus avós moram há uma
longa distância, ao sul do Texas, então não podem vir. Desse modo, somos apenas
eu, meu pai, minha mãe, minha irmã mais nova, Molly, e nosso cachorro Bil.
Mamãe dá aulas particulares,
enquanto papai trabalha no escritório. Eu e minha irmã ficamos com a babá em
casa, Catarina, com seus vinte e quatro anos de idade, baixa, de cabelos
escuros e pele clara. Ela está sempre no sofá mascando chiclete e assistindo a
um programa aleatório de animais selvagens.
— Pai, vamos!
Grito, enquanto corro até o balanço.
O vento estava fraco naquele típico dia de fim de tarde, o que era raro, admito.
E fazia eu me sentir sozinho, conforme as semanas passavam e eu crescia. E não
ter a figura paterna nem materna presentes por muito tempo é meio... triste.
— Vamos lá garotão, sobe!
Ele me pega me sentando no balanço e
começa a me empurrar. Meus cabelos voam com o vento que bate em meu rosto,
enquanto Bil corria pelo jardim atrás de uma borboleta que passeava por lá.
— Pai, por que não passamos mais tempo juntos? Quase não nos
vemos.
Ele para o balanço, se agachando em
minha frente.
— Filho, eu trabalho, assim como sua mãe, mas prometo que
tentarei ter mais tempo com você.
— Tudo bem, pai.
Ele sorri e bagunça meus cabelos.
—Vem, vamos levar Bil para passear.
Desço do balanço, correndo, com ele
atrás de Bil. Então, passamos a tarde juntos, até a noite chegar. Eram dias
bons, quando todos nós estávamos juntos daquele jeito, nem que fosse por uma
semana ou por alguns dias curtos, porém únicos.
Depois daquela semana, minha felicidade não durou muito. Voltando
do trabalho, papai sofreu um acidente. Bateu o carro em uma árvore. Mamãe recebeu
uma ligação dizendo o que havia acontecido e tentou fingir que estava tudo bem
ao me contar tudo, mas logo se desmanchou em lágrimas em minha frente.
O impacto havia sido forte e ele não
resistiu. Não me deixaram vê-lo uma última vez. Não pude me despedir. Não
tivemos o tempo que ele disse que teríamos. Apenas as doces lembranças de dias
atrás.
Olho para minha mãe, que está ao meu
lado no banco. Estamos em uma igreja, em um velório: o do meu pai.
— Querido, o discurso.
— Claro.
Digo, me levantando e já caminhando
pelo piso marrom. Subo as escadinhas, para chegar ao palco. O caixão é branco e
está fechado à minha frente, com coroas de flores e cruzes.
Vou até o microfone, à frente do
caixão, e todos os olhares curiosos e chorões das pessoas sentadas nos bancos
se voltam para mim. Engulo em seco e olho para baixo, mas começo:
— Bom, tudo bem... meu pai ...
Respiro fundo, tentando achar as
palavras. Era para eu ter escrito meu discurso de despedida, mas eu estava
acabado e adormeci.
— Bom... é...
Minhas lágrimas começaram a cair
pela pressão e pânico, então eu desço as escadas correndo para fora da igreja.
Enquanto corro, ouço minha mãe pedir desculpas por mim. O caixão é retirado da
igreja e levado para o cemitério. Já eu sou levado para casa pela minha avó,
que havia vindo para o velório.
Logo que chego em casa, subo para meu quarto, abrindo a porta
e já sentindo uma sensação de falta. Lembranças ... memórias... tudo me
atinge em cheio. Vou até a janela e vejo a noite devorando as casas. A lua está
brilhante. Meu pai me dizia que amava a lua e todas as estrela. Isso aumenta o
vazio dentro de mim.
— Pai, será que você pode me ouvir aí de cima?
Olho para a lua, e a vejo brilhar.
— Você está aí?
É claro que não, estou sendo idiota.
Eu sei! Me jogo em minha cama e fico olhando o teto. Meus olhos começam a pesar,
e o sono acaba me levando para longe.
Me vejo em um jardim, o mesmo de dias atrás, da casa ao norte
da América. Novamente, vejo o balanço e a noite a cobrir o céu. Agora, a lua
desce até mim e para em minha frente. Dela, uma sombra se criou. E, da sombra,
uma forma iluminada. Da luz vinda da lua, um homem... um homem apareceu. Era
meu pai.
Não! Não pode ser ele. Eu sei disso!
Ele não pode estar aqui, pois está morto, ele está... é tudo o que penso.
— Eddie.
— Pai? Não pode ser... engasgo.
— Eu disse que iríamos passar mais
tempo juntos não é, garotão?
Ele se agacha na minha frente,
ficando do meu tamanho. Minhas lágrimas rolam fortemente por meus olhos, que queimam
para chorar feito uma criança.
— Pai. Você não pode me deixar aqui, sozinho... não
pode!
— Filho, quando se sentir sozinho, olhe para a lua e eu
estarei lá. Ele sorri e me abraça.
— Até logo, filho.
Acordo com
Bil lambendo meu rosto. Me viro na cama e percebo que estou chorando. Seco
minhas lágrimas, me levanto e vejo a lua a brilhar. Tão linda. E, por mais
estranho e maluco que possa parecer, sinto que a vi sorrir para mim.
Autora: Isadora Vaz
Envie seu texto você também! Clique aqui e saiba como.
0 Recados
E você, o que achou do post? Me conte aqui nos comentários!
Deixe seu link para eu conhecer seu blog também. ;)