#9: Carta para alguém bem perto
São Paulo, 20 de Outubro de 1995
Depois de muita
investida, decidi mudar daqui. Escrevo esta carta para ti pensando — e
insistindo para mim mesmo — que não deveria escrever. Morei aqui desde quando
nasci. Vi minha vó e meu vô adoecerem e morrerem, sendo algum dos dias de
sofrimento, o hospital. Eu poderia estar lhe falando coisas à fio, mas não.
A sala que hoje você
irá ligar a TV e manchará o sofá com molho branco, anos atrás foi o lugar
preferido de meu pai para nos fazer rir. A cozinha aberta, cheia de vida, com
janelas e mais janelas, onde a luz do sol bate e dá bom dia, na qual hoje você provavelmente
não fará nada, anos atrás, foi o lugar preferido de minha mãe.
O escritório
espaçoso, cheio de livros antigos, cheio de poeira, que virará para ti um
depósito, anos atrás, era meu lugar preferido, junto ao meu avô. Os banheiros
onde você vomitará por ressacas inúteis, eram onde minha vó se escondia para
não comentar sua depressão.
Aprendi todas às
emoções nesta casa. E, você, também aprenderá.
Quando decidi vender
sem querer saber de nada do processo de venda, uma parte, junto à esta casa,
morreu comigo. Naquele dia, as folhas das árvores do quintal caíram. O dia
escureceu. Choveu. Me senti triste, depressivo. CONTUDO, alegro-me por todas às
vezes em que me senti feliz nesta casa. Todas às vezes que os sermões do meu
avô me valeram a pena. Tudo.
Não vou tirar o
quadro de orquídeas — pintado por minha mãe — da parede. E também não há como
tirar. Aquele quadro, enquanto a casa estiver de pé, ficará preciso àquela
parede, sem mais, nem menos. Toda vez que você ver o quadro, lembre-se da
gente. E, por favor, nunca o tire de lá.
Agora é hora de me
despedir. É hora de ir. Para onde? Não hei de saber, pois eu mesmo não
sei. Não quero sofrer mais que já sofri. Preciso.
Saiba que valorizei
todos os momentos de felicidade, tristeza, choro e ensinamento dentro desta
casa. Você não sabe o prazer que era. Minha mãe dizia: "Dizer adeus não
é fácil, mas temos que tentar!" Eu criei o meu Final Feliz neste
local, e espero que você também crie.
Pra que sofrer com despedida?
Se quem parte não leva
Nem o Sol, nem as trevas,
Se quem parte não leva
Nem o Sol, nem as trevas,
E quem fica não se esquece,
Tudo o que sonhou, eu sei...
Tudo o que sonhou, eu sei...
Tudo é tão simples
Que cabe num cartão postal,
E se a história de amor não acaba tão mal.
O adeus traz a esperança escondida!
E se a história de amor não acaba tão mal.
O adeus traz a esperança escondida!
Pra que sofrer com despedida? — RL & PC.
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