Eu sempre quis mudar o mundo. Mesmo quando ainda enxergava com os olhos de uma criança. Mesmo quando me achava insignificante e pequena. Mesmo ferida e quebrada. Eu sempre quis mudar o mundo.

Até o momento que entendi que o mundo era perfeito em sua imensa grandeza, da terra ao céu

Até o minuto que percebi que o problema não era o mundo, e sim as pessoas que o habitavam.

A escuridão que habita em cada um de nós. Até o segundo que entendi que cada pessoa é um mundo. Eu sempre quis mudar o mundo, até que descobri que eu não queria.

O mundo não precisava ser mudado, compreendi. Eu aprendi o passado da humanidade e me dei conta que o mundo já havia mudado, mas o ser humano não.

Mulheres ainda têm suas vidas roubadas e destruídas e seus corpos maculados. Crianças ainda são abusadas e vistas como um objeto para ser moldado pela vontade de outros.

Vidas negras ainda importam menos. Plebeus ainda estão sob o jugo da nobreza. A fome ainda mata. As senzalas ainda existem.

Cristo ainda é crucificado todos os dias, quando negros, crianças, homossexuais e mulheres são mortos apenas por existirem e desejarem ser livres. E não é culpa do sol que brilha sobre nossas cabeças, ou da terra onde caminhamos, ou dos rios que matam nossa sede.

Foram séculos de luta, e hoje seguem tirando tudo que um dia pessoas deram o sangue para conquistar.

O ser humano não quer um mundo mudado, ele quer um mundo onde seja soberano. 

Eu já quis mudar o mundo.