Um nunca chamado amor: o que poderíamos ter sido
Sabe,
rapaz, eu lembro. Ainda lembro de tudo que um dia fomos, mas principalmente
de tudo que deixamos de ser... que podíamos ter sido. Lembro das vezes que conversávamos
naquele banco branco, sempre como se fôssemos amigos de décadas. Você sempre
usava um casaco maior que você, uma touca nada estilosa de vez em quando,
escondendo suas mechas loiras. Lembro que eu sempre me sentia uma ninguém
naquele lugar, mas não quando estava com você. Você, ainda não entendo, foi o
único que me viu além daquilo que eu me esforçava muito pra mostrar. Uma pequena
parte de mim que nunca foi minha de verdade, no entanto, você me permitia
ser eu mesma. Eu gostava disso: de ser quem sou com quem me libertava.
Lembro
das vezes em que rasgamos o silêncio desconcertante com inúmeras discussões
sobre música. Você, um heavy metal pesadão, enquanto eu
vivia nas ilusões do rock pop, mas, sabe, eu sempre achei que nossa melodia
rimava. Talvez fossem as batidas do meu coração gritando alto demais em meus
ouvidos que nada daquilo que éramos era de fato o que eu queria que fôssemos. E
eu, tão boba, sempre tentei te animar a amar... outra. Sempre tentei te
ajudar a querer... outra. Nunca pensei que eu poderia ser, em algum
momento sequer, a outra pessoa. Afinal, éramos apenas amigos, certo?
Mas, houve um momento. Houve um momento em que meu coração deu cambalhotas e eu
pensei que o nosso momento havia chegado.
Mas
nunca chegou. Nunca.
As
pessoas nos alertam sobre o nunca. Nunca diga nunca, dizem. Mal sabem
elas que o nunca realmente existe... Rapaz, você é o meu nunca. O que
nunca deu. O que nunca aconteceu. O que nunca foi além daquilo que jurávamos
que era. No fundo, o nosso sentimento sem nome, nem cores, nem estilo, era
apenas um vão daquilo que ambos desejavam que pudesse ser... mas nunca foi.
Eu entendi, anos depois, que você estava ali da mesma forma que eu estive. O tempo
inteiro estivemos ali, prontos, esperando, desejando, mas nos esforçamos
tanto para não demonstrar que nunca percebemos. Você lia meus sinais de
forma errada enquanto eu nem achava que você transmitia qualquer coisa que não
fosse nosso lema de amizade.
E,
no fundo, ambos sabíamos que o que crescia em nós nunca foi apenas amizade.
Talvez
eu tenha te amado como amigo antes de qualquer coisa, mas, sabe, algo mudou. E não
demorou muito pra isso acontecer, afinal, como eu disse, você foi o único que
me notou. Que percebeu meu eu escondido dentro de uma carcaça de vidro. Nunca
estilhacei, aliás, não como estilhacei por você. O tempo já se foi, você
sabe. O tempo te levou por outros rumos e eu nem sei mais quem é você hoje. Mas,
sabe, hoje tenho a audácia de dizer a quem ama: diga. Às vezes, a gente
deixa de viver por nunca ter coragem o suficiente de tentar.
Pode
ser que nunca dê em nada. Pode se que seja tudo... nós fomos apenas um
nunca. Nunca tentamos ser nem uma coisa nem outra.
Um vão. É o que fomos... um
vão do que podíamos ser, mas nunca fomos
2 Recados
Olá! Tudo bem?
ResponderExcluirAmei esse texto, toca lá no fundo.
Depois desse texto sei que você poderia escrever um livro que se tornaria sucesso. Já pensou nisso?
Já tem uma leitora.
Beijocas.
https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
Oi, Vanessa! Fico muito feliz que tenha gostado do texto.
ResponderExcluirEu tenho MUITA vontade de escrever (ou melhor, terminar de escrever) um livro. Já tenho muita coisa escrita, mas me falta um pouco mais de dedicação a isso.
Agradeço muito pela força!
Volte sempre.
Beijos
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