#Resenha: Ela prefere finais felizes - Ricardo Coiro

by - julho 12, 2019


Título: Ela prefere finais felizes

Autor: Ricardo Coiro           

Editora: Planeta de Livros Brasil (selo Outro Planeta)

Ano de publicação: 2019

Páginas: 288

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A História

Leco é músico e sai de Santa Maria, a cidade onde viveu até então, adentrando São Paulo sem muito em mãos, mas com os sonhos em cheio, além de sua guitarra, a alma de sua vida. Lá, Leco conhece novas pessoas e reencontra outras, mas a música, que é o gás da sua vida, é o que de fato deixa o gaúcho mais vivo e pronto para enfrentar tudo. Só que não somente... o cara gosta de beber bastante, se jogar na noitada, de dar uma boa cheirada e às vezes tudo isso junto. Passa tudo no crédito, o que não passa mesmo é seu jeito despreocupado de ser. Sua bagunça se choca com o mundo de Laila, sem pretensão, mas quando rola aquela química a música até ganha novas notas.

Laila é veterinária. Ela vive em São Paulo e tem sua clínica, onde atende os bichinhos e cuida de sua saúde. Ela é uma mulher centrada, independente e que tem os pés no chão. Sua vida vive em ordem, juntamente com Luis e Miguel, seus bichinhos de estimação. A única linha fora do lugar é sua amiga, tão louca quanto Laila é careta. Após uma decepção amorosa daquelas, Laila se fechou para o amor, para o romance, para a vida a dois... isso mesmo, ela tem medo de sofrer novamente. Se arriscar não é muito a praia dela, afinal. Sua ordem entra em revolução quando Leco adentra seu espaço, colocando tudo de cabeça para baixo e, de forma inesperada e sem explicação, abala também seu mundo de dentro.

Dois mundos opostos. Duas pessoas que são completamente diferentes. Um caminho inesperado. Até que ponto peças diferentes se encaixam?


Capa, escrita e detalhes

A capa do livro está impecável de linda, toda trabalhada em tons combinando de azul e rosa. Eu adorei a edição.

A escrita do livro é diferente, pois tem uma narrativa bem no estilo cultural do sotaque e modo de falar dos personagens, mas não só por isso. A narrativa tem um tom muito realista e sem “travas na língua”, então quem lê pode se incomodar com a narrativa construída nessa história, mas acredito que essa tenha sido de fato a intenção do autor: descrever a realidade como ela é.

Comecei a ler esse livro com muitas expectativas e tive grande surpresa quando de fato me envolvi com a história. Quem já conhece Ricardo Coiro como autor talvez tenha imaginado várias coisas para seu primeiro romance, assim como eu. Mas realmente estou surpresa e de um jeito bom, mas estranho. Vou explicar essa bagaça, calma.


Os personagens dessa história não se acha em qualquer história. Não diria que o gênero do livro é romance erótico, mas há muito erotismo, só que de uma forma que ainda não havia lido antes. Aqui temos a realidade tão imposta, com personagens tão reais que  agente estranha. Estranha pra valer. É uma história que incomoda e não por te fazer refletir e tal, mas por te fazer compreender que é assim que o mundo é muitas vezes.

Poderia afirmar, portanto, que esse livro traz a verdade nua e crua. Não tem rótulos, não tem apelidos e “jeitinho” de dizer isso e aquilo, tudo é dito bem na lata, sendo ‘vulgar’ mesmo, incomodando, quebrando tabus, principalmente sobre sexo. As atitudes dos personagens vão irritar, porque foram criados de forma tão humana, com todas as nossas possibilidades de errar e cometer o mesmo erro várias vezes de novo. São personagens reais e cheios de problemas, complexidades, sonhos e inseguranças. São personagens como nós.


Foi bom ou ruim? Foi ruim. Mas também foi bom. Foi ruim quando me incomodei ao ponto de estranhar a leitura,  mas foi bom quando eu compreendi que ali não tinha menos do que tem dentro de nossos pensamentos, dentro de nosso interior muitas vezes e dentro de nossas ações.

Outro ponto muito bacana é que o autor tratou dois mundos completamente diferentes, com temáticas diferentes e problemas distintos, de forma muito coerente, pois a gente já espera que haja um baque nessa relação, mas tudo foi acontecendo aos poucos, sem muitas pretensões e quando vemos aquilo já estava acontecendo faz tempo, só não víamos, da mesma forma que os personagens. Me senti no lugar deles.

Conclusão

Resenha gigante, então vou parando por aqui.

Se você quer um romance água com açúcar (eu amo também, viu), esse livro não é para você. Se você quer um romance picante, com um deus grego de tanquinho, controlador e rico, vai pegar outro bonde que esse aqui passa longe. Agora, se você quer ler um livro que é clichê sendo absolutamente nada clichê (eu sei, insano, mas vai por mim) e que mostra a vida como ela é, beleza, vai com tudo. Porque esse livro é tudo, menos mais do mesmo.

Recomendo, viu? Principalmente para quem, assim como eu, gosta de histórias que te tiram da zona de conforto. Você vai dizer uns “porra, Coiro” várias vezes, mas vai se sair bem no final.

Citações marcadas
"O amanhã não passa de uma suspeita que vivemos a confundir com certeza absoluta; e marcar nossos planos numa folha de calendário, por mais que a gente queira concretizá-los, não vai deixar o depois menos incerto."

 "As pessoas estão sempre calculando os passos, agindo como se a vida fosse um imenso tabuleiro de xadrez, preocupadas demais com as próximas jogadas, com o que podem ganhar se fizerem o movimento certo."
"O trem às vezes passa antes da hora, quando ainda nem terminamos de desfazer as malas da última viagem".
"A vida tá mais pra um livro que fica bem longe da sessão de autoajuda e das vitrines, que nunca vai virar best-seller porque a maioria, quando recorre à arte, busca esperança antes de tudo; qualquer palavra-morfina".


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