#Resenha: Ela prefere finais felizes - Ricardo Coiro
Autor: Ricardo Coiro
Editora: Planeta de Livros Brasil (selo Outro Planeta)
Ano de publicação: 2019
Páginas: 288
A História
Leco é músico e sai de Santa Maria, a cidade onde viveu
até então, adentrando São Paulo sem muito em mãos, mas com os sonhos em cheio,
além de sua guitarra, a alma de sua vida. Lá, Leco conhece novas pessoas e reencontra
outras, mas a música, que é o gás da sua vida, é o que de fato deixa o gaúcho
mais vivo e pronto para enfrentar tudo. Só que não somente... o cara gosta de
beber bastante, se jogar na noitada, de dar uma boa cheirada e às vezes tudo
isso junto. Passa tudo no crédito, o que não passa mesmo é seu jeito despreocupado
de ser. Sua bagunça se choca com o mundo de Laila, sem pretensão, mas quando
rola aquela química a música até ganha novas notas.
Laila é veterinária. Ela vive em São Paulo e tem sua
clínica, onde atende os bichinhos e cuida de sua saúde. Ela é uma mulher
centrada, independente e que tem os pés no chão. Sua vida vive em ordem,
juntamente com Luis e Miguel, seus bichinhos de estimação. A única linha fora
do lugar é sua amiga, tão louca quanto Laila é careta. Após uma decepção
amorosa daquelas, Laila se fechou para o amor, para o romance, para a vida a
dois... isso mesmo, ela tem medo de sofrer novamente. Se arriscar não é muito a
praia dela, afinal. Sua ordem entra em revolução quando Leco adentra seu
espaço, colocando tudo de cabeça para baixo e, de forma inesperada e sem
explicação, abala também seu mundo de dentro.
Dois mundos opostos. Duas pessoas que são
completamente diferentes. Um caminho inesperado. Até que ponto peças diferentes
se encaixam?
Capa, escrita e detalhes
A capa do livro está impecável de linda, toda
trabalhada em tons combinando de azul e rosa. Eu adorei a edição.
A escrita do livro é diferente, pois tem uma narrativa
bem no estilo cultural do sotaque e modo de falar dos personagens, mas não só
por isso. A narrativa tem um tom muito realista e sem “travas na língua”, então
quem lê pode se incomodar com a narrativa construída nessa história, mas
acredito que essa tenha sido de fato a intenção do autor: descrever a realidade
como ela é.
Comecei a ler esse livro com muitas expectativas e
tive grande surpresa quando de fato me envolvi com a história. Quem já conhece
Ricardo Coiro como autor talvez tenha imaginado várias coisas para seu primeiro
romance, assim como eu. Mas realmente estou surpresa e de um jeito bom, mas
estranho. Vou explicar essa bagaça,
calma.
Os personagens dessa história não se acha em qualquer história. Não diria que o gênero do livro é romance erótico, mas há muito erotismo, só que de uma forma que ainda não havia lido antes. Aqui temos a realidade tão imposta, com personagens tão reais que agente estranha. Estranha pra valer. É uma história que incomoda e não por te fazer refletir e tal, mas por te fazer compreender que é assim que o mundo é muitas vezes.
Poderia afirmar, portanto, que esse livro traz a
verdade nua e crua. Não tem rótulos, não tem apelidos e “jeitinho” de dizer
isso e aquilo, tudo é dito bem na lata, sendo ‘vulgar’ mesmo, incomodando,
quebrando tabus, principalmente sobre sexo. As atitudes dos personagens vão
irritar, porque foram criados de forma tão humana, com todas as nossas
possibilidades de errar e cometer o mesmo erro várias vezes de novo. São personagens
reais e cheios de problemas, complexidades, sonhos e inseguranças. São personagens
como nós.
Foi bom ou ruim? Foi ruim. Mas também foi bom. Foi ruim quando me incomodei ao ponto de estranhar a leitura, mas foi bom quando eu compreendi que ali não tinha menos do que tem dentro de nossos pensamentos, dentro de nosso interior muitas vezes e dentro de nossas ações.
Outro ponto muito bacana é que o autor tratou dois
mundos completamente diferentes, com temáticas diferentes e problemas
distintos, de forma muito coerente, pois a gente já espera que haja um baque
nessa relação, mas tudo foi acontecendo aos poucos, sem muitas pretensões e
quando vemos aquilo já estava acontecendo faz tempo, só não víamos, da mesma
forma que os personagens. Me senti no lugar deles.
Conclusão
Resenha gigante, então
vou parando por aqui.
Se você quer um romance água com açúcar (eu amo
também, viu), esse livro não é para você. Se você quer um romance picante, com
um deus grego de tanquinho, controlador e rico, vai pegar outro bonde que esse
aqui passa longe. Agora, se você quer ler um livro que é clichê sendo
absolutamente nada clichê (eu sei, insano, mas vai por mim) e que mostra a vida
como ela é, beleza, vai com tudo. Porque esse livro é tudo, menos mais do
mesmo.
Recomendo, viu? Principalmente para quem, assim como
eu, gosta de histórias que te tiram da zona de conforto. Você vai dizer uns “porra, Coiro” várias vezes, mas vai se
sair bem no final.
Citações marcadas
"O amanhã não passa de uma suspeita que vivemos a confundir com certeza absoluta; e marcar nossos planos numa folha de calendário, por mais que a gente queira concretizá-los, não vai deixar o depois menos incerto."
"As pessoas estão sempre calculando os passos, agindo como se a vida fosse um imenso tabuleiro de xadrez, preocupadas demais com as próximas jogadas, com o que podem ganhar se fizerem o movimento certo."
"O trem às vezes passa antes da hora, quando ainda nem terminamos de desfazer as malas da última viagem".
"A vida tá mais pra um livro que fica bem longe da sessão de autoajuda e das vitrines, que nunca vai virar best-seller porque a maioria, quando recorre à arte, busca esperança antes de tudo; qualquer palavra-morfina".
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