#Resenha: Quem matou Pacífico? - Maria Alice Barroso
Título: Quem matou Pacífico?
Autora: Maria Alice Barroso
Editora: Mercado Aberto
Páginas: 150
Ano de publicação: 1981
Onde comprar: Estante virtual
Maria
Alice Barroso escreveu “Quem matou
Pacífico” como uma história fictícia da região do interior do Rio de
Janeiro, que ela chama de Parada de Deus.
No entanto, o que a autora talvez não tenha se dado conta no momento em que
escreveu essa história é que tudo o que aconteceu com esses personagens é fruto
de uma forte identidade cultural, tanto do local em que se passa tanto da época
em que se conta.
A História
Em “Quem
matou Pacífico”, temos uma morte que chama a atenção de todos. O irmão do
prefeito, Pacífico, é assassinado
silenciosamente com dois tiros em frente à casa de Luzia, no cemitério onde a
moça mora. A moça, Luzia, era sua
amante, como todos ali sabiam, mas não se limitava a apenas estar com Pacífico.
Além de
Pacífico, existiam outros: O piloto, o
francês e o português. A tensão está posta na cidade de Parada de Deus,
pois ninguém ouviu e viu nada naquela noite, só se sabe que o piloto havia
jurado matar os outros pretendentes de Luzia.
A
história se passa com esse mistério para ser desvendado. O delegado da cidade,
visto como um homem muito bom no que faz, está averiguando o caso, prendendo os
possíveis assassinos e ouvindo quem acha importante ouvir.
Mas quem
teria coragem de matar um homem como Pacífico? No qual todos os seus inimigos e
de sua família tão poderosa amanheciam mortos e sem vestígios? Conforme o
delegado vai averiguando, descobre que mesmo quando todos podem ter certeza do
que está acontecendo, o final pode ser totalmente diferente.
Capa, escrita e detalhes
O livro
traz uma vasta performance dos modos da década de setenta de se vestir, falar,
viver. Um fato interessante da história é que é possível sentir-se parte
daquela cultura, como um visitante que está ouvindo a história de alguém que já
contou isso mais de uma vez.
O modo
com que a autora escreveu a história, deixando claramente as falas da época
fortemente presentes no livro foi incrível, como nessas falas:
“E o que é que ocê tem com isso?”. “Nada. Só tou perguntando por perguntar, uai”.
É uma
escrita bastante pessoal, individual, diferente, mas ao mesmo tempo muito
fluída.
É
possível perceber também que há muita memória na escrita do livro, pois
trata-se de ricos detalhes de como era o local na época, como as pessoas viviam
e como resolviam seus problemas.
Ainda é
possível perceber a memória presente no livro quando os personagens vão
narrando os fatos e cenas, o que haviam acontecido anos antes e que tem toda
importância para o momento atual em que a história é contada.
Essas
memórias fazem parte do acervo cultural dessas pessoas, de sua identidade, seus
modos de pensar, seus saberes e jeito de ver o mundo.
Outro
ponto fortemente presente no livro é a questão da escravatura, pois faz parte
da memória cultural daquele povo o negro como escravo, mas ainda no atual
momento da história é possível perceber a inferioridade atribuída ao negro.
Um
exemplo disso é a própria mulher de Pacífico que, por ser negra e ex escrava, é
vista como uma vergonha para ser esposa de um homem rico.
Além
disso, está presente também a forma com que as escravas eram usadas pelo
branco, sendo largadas de lado logo após terem sua virgindade tirada, mesmo que
engravidassem. Neste fato, ainda temos os casos de filhos de escravas com os
patrões, que não eram reconhecidos.
Conclusão
O livro
evidencia uma mistura de culturas. Os modos de ser de quem vem do exterior, no
caso do francês. Os modos de ser de quem vem da cidade grande, no caso do
piloto. Os modos de ser de quem mantém um restaurante português no Brasil, em
uma cidadezinha do interior, no caso do português.
Além
disso, temos vários dilemas retratados no livro: a esposa que é aprisionada
pelo próprio marido; o filho que não é reconhecido pelo pai por ser filho de
uma negra; a moça que não se importa de ser vista com mais de um homem; o homem
que cuida do cemitério mas que ainda chora a morte da esposa; o prefeito que
quer vingar a morte do irmão; um crime bastante intrigante; inocentes presos
mas que podem ser julgados como culpados e um delegado aflito para julgar o
caso e condenar o verdadeiro assassino.
Eu amei
demais e nem imaginava que iria amar tanto assim! Recomendo muito para quem
gosta de romances policiais, com mistério e bastante cultura envolvida.
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