Tudo o que ela queria não querer
Ela
sentia que nada poderia mudar em sua vida. Pensava que sempre seria assim: dias
monótonos, vãos entre o tempo de ontem e o de hoje, além da imensa incerteza do
amanhã. Mas não era isso que ela queria. No fundo, tudo o que lhe deixava feliz
era saber que tinha seus sonhos, mesmo que encaixotados na gaveta das memórias.
Não eram simples memórias, ela dizia. A verdade é que suas visões de mundo
estavam ali, aprisionadas dentro de seu próprio ser. Tudo o que ela era estava
estagnado no que não queria ser.
A
brisa bagunçava suas mexas, levava seu cheiro pelos ares, inundando a todos por
onde ela passava, quando pensou ter ouvido sua voz interna lhe dizendo que não.
Não? Podia sentir sua testa enrugando suavemente. A vida tentava lhe dizer que não,
que nada poderia continuar do jeito que estava. Não quando ela estava infeliz. Não
quando era ela quem se sentia fora do eixo. Não quando tudo o que ela mais
queria era poder ser quem é. Às vezes a vida nos mostra novos ares e não damos
atenção, talvez por estarmos ocupados demais com o cotidiano maçante ou
simplesmente por já não termos mais esperança de dias novos.
Sonhava
acordada de vez em quando, mas nunca pensou que pudesse ver seus sonhos se
entrelaçando com as linhas da vida. Aliás, seus traços internos se debatiam
embaixo dos traçados que era obrigada a rabiscar em suas histórias. Não as de
seu mundo de dentro, mas as que lhe permitia esconder que sua maior vontade era
sair por aí destruindo seus muros internos. Ela nunca foi tão decidida assim na
vida, para dizer a verdade, mas será que as coisas poderiam mesmo mudar? Foi o
que começou a pensar após um tsunami de verdades não ditas de seu subconsciente.
Ah, ela se sentiu avassalada por si mesma.
Tudo
o que ela queria não querer da vida era passar a se esconder, mas foi se
escondendo que percebeu o quanto de si estava perdido. Tudo o que ela queria
não querer, agora, é ficar escondida. Agora, depois de todo longo tempo que
passou pensando que se afastar dos outros era se encontrar consigo mesma,
percebeu que seu erro foi ter se mantido do lado de fora de seu mundo de
dentro. Ela finalmente entendeu que para amar ao próximo é preciso se amar
primeiro, afinal ninguém pode oferecer aquilo que não tem.
E
às vezes quando ela pensa que se esconde, se mostra. É preciso muito esforço
para ser o que não é. Quem você é de verdade escapa pelas frestas com perfeita
naturalidade. Uma hora ou outra, a gente se mostra sem perceber.
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