Uma carta jamais enviada
Uma mulher feia discorda de Dostoiévski (em Noites Brancas):
Um
momento de felicidade não é o bastante para iluminar uma vida.
Meu querido,
Eu era uma garota tensa, tola, que havia
sofrido uma rejeição recente, traída por um namorado, estava magoada e com medo
de um novo relacionamento, quando pela primeira vez fui realmente cortejada (à
moda antiga) e admirada, por você; eu que era sempre a que se esforçava e muito
para atrair a atenção dos meninos. Eu não sabia o que fazer ante o seu
entusiasmo, sua espontaneidade e nem estava preparada para a violenta emoção
que se apoderara de mim.
De fato, foi tão forte o desejo, a
atração, que se chocou com todos os ‘não pode’ de minha educação rígida, e eu,
sem saber como agir, travei. Por um lado queria rir, falar, mostrar-me, por
outro, temia perder o equilíbrio, dizer bobagem, ser inconveniente, ultrapassar
os limites de meus pais, ou desagradar você, não corresponder a suas expectativas
(o que deve ter acontecido). Sendo mulher, em pensamentos, pus o vestido de
noiva antes mesmo do primeiro encontro. Eu tinha tanta certeza de ser você o
amado de meu coração! Coisa de mulher. Com os homens é diferente, é o hoje, depende
do que vai rolar, a gente vê como fica o amanhã, tranquilo, honesto, sem
fantasias.
Como eu gostaria de ter tido uma segunda
chance!
Você reapareceu dois meses depois, e eu
havia chorado tanto, e sentia tanta raiva pelo desencontro, e ainda por cima no
dia seguinte eu tinha uma prova difícil na faculdade; fiquei seca, brava,
inacessível quando você chegou como se nunca tivesse partido, como se dois
meses fossem ontem, e eu nem dei a você a chance de se explicar – eu sabia que
havia assuntos pendentes com sua família a serem resolvidos, e, talvez,
percebendo minha emoção, você prudentemente tenha se afastado para enxergar
melhor a situação, já que nossas famílias se conheciam e seriam afetadas por
nossas decisões.
Desculpe, eu também o magoei e perdi meu
rumo.
Rezei, ao longo dos anos, para que você fosse feliz, e tivesse uma boa vida. Chorei quando soube de seu casamento. Chorei quando minha filha nasceu de olhos e cabelos claros, como os seus.
Rezei, ao longo dos anos, para que você fosse feliz, e tivesse uma boa vida. Chorei quando soube de seu casamento. Chorei quando minha filha nasceu de olhos e cabelos claros, como os seus.
Hoje sei que você foi feliz em sua vida profissional, e, também, com a família
que formou.
Fico feliz por você. Que Deus o abençoe. E, se em outro momento, talvez em outra vida, possamos estar juntos, que o universo conspire a nosso favor. Obrigada por ter iluminado a minha juventude com seu carinho.
Fico feliz por você. Que Deus o abençoe. E, se em outro momento, talvez em outra vida, possamos estar juntos, que o universo conspire a nosso favor. Obrigada por ter iluminado a minha juventude com seu carinho.
Aquela
que nunca esqueceu seus olhos verdes cintilantes.
Autora:Sonia Regina Rocha Rodrigues Santos/SP
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4 Recados
Que texto lindo, gostei, parabéns...
ResponderExcluirLindo, né? Foi de uma leitora, a Sonia!
ExcluirObrigada pela visita, lindona! Volte sempre.
Super beijo,
Sâm.
Caramba, como deu um aperto no meu coração ao ler isso! Nossa, que dor!
ResponderExcluirOi, lindona! Desculpe a demora em responder você, mas os comentários vão sumindo quando outros vão chegando.
ExcluirMas realmente, essa carta foi muito tocante!
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