#Resenha: O fundo é apenas o começo
Título: O fundo é apenas o começo
Autor: Neal Shusterman
Editora: Valentina
Páginas: 272
Ano de publicação: 2018
“O que acontece quando o seu universo começa a sair da ponto de equilíbrio e você não tem a menor experiência em reconduzi-lo ao centro?
A história
A vida de Caden está em uma maré de altas vibrações,
e agora ele vive em dois mundos. Em um mundo, ele mora com os pais e sua irmã
mais nova, tem seu quarto, sua casa, alguns poucos amigos e a escola. No outro
mundo, Caden vive a bordo, em um navio cheio de tripulantes, um capitão e um
papagaio tagarela.
No mundo
visto como real, Caden percebe que está correndo perigo, que alguém quer
matá-lo na escola e começa a agir estranhamente, cada vez mais. No fundo, ele
sabe que provavelmente nada está acontecendo, mas não consegue deixar de sentir
que alguma coisa está errada. Quando seu comportamento vai mudando, seus pais
começam a perceber que ele está agindo fora do comum e decidem hospitalizá-lo.
No mundo
a bordo, Caden faz parte dos tripulantes do navio que segue uma longa viagem. Alguns
tripulantes são mais velhos, outros sãos os oficiais, piratas, como o capitão.
Mas há também os rapazes jovens que cometeram delitos e foram mandados para lá
como uma forma de reabilitação, assim como Caden.
Como
saber o que é real e o que é imaginário? E quando o imaginário e o real
se misturam te fazendo perceber que um só existe por causa do outro? E quando se esbarram e se tornam uma coisa
só?
Alguns personagens
Caden é um rapaz de quinze anos de idade. Ele mora com os
pais e a irmã. Ele ama desenhar e está sempre rabiscando o que sente. Sua vida
muda quando ele começa a ter pequenos surtos, delírios que vêm e vão, mas que
sempre deixam algo para trás. Caden começa a crer que está correndo perigo de
vida, mente para os pais dizendo que está fazendo parte da equipe de corrida da
escola, mas o que faz nesse tempo é perambular sozinho pelas ruas, engolido por
seus pensamentos e imaginação. Caden começa a agir cada vez mais estranho, seus
amigos se afastam, todos os olham de forma diferente, e ele começa a ter
pensamentos perturbados, a sonhar acordado até que não sabe mais o que é real e
o que é apenas fruto de um mundo ilusório.
A família de Caden, pai, mãe e Mackenzie, sua irmã,
estão sempre dando forças a ele. Se preocupam e tentam ajudar, embora não
possam fazer muita coisa sozinhos. Eles não o abandonam nunca, mesmo quando as
coisas apertam.
O capitão é o guia do navio, ele tem um
tapa-olho, o rosto curtido, rugas, barba escura e desgrenhada. Ele passou a
vida inteira no mar e é quem guia o navio a essa longa viagem cujo destino é
incerto. Ele tem um papagaio tagarela, que também tem um tapa-olho e carrega um
crachá no pescoço.
Carlyle faz parte dos tripulantes do navio. Ele é o
faxineiro, um cara ruivo e com um sorriso simpático. Embora não seja um dos
oficiais, ele não é mais um jovem, é mais velho. Caden gosta de conversar com
ele e vice-versa.
Calíope vive no navio também. Mais especificamente, ela vive
na proa do navio, condenada a suportar as ondas feroz do mar. Seu nome,
Calíope, significa musa da poesia.
Shelby e Max são os amigos de Caden. Com eles,
Caden gosta de criar jogos em RPG. Max é gênio da informática. E Shelby é quem
desenvolve os conceitos do RPG. Já Caden se destina a desenhar os personagens. Mas
tudo tem sido muito diferente há algum tempo, agora tudo está mudado...
Capa, escrita e detalhes
A capa desse livro é simplesmente maravilhosa de
linda. Aliás, a edição completa do livro está incrível! Depois que começamos a
captar a intenção da narrativa, percebemos como a capa reflete perfeitamente a
história de Caden. Simplesmente amei.
A escrita do autor é muito cativante. Se trata de um
livro que te emociona, que te faz refletir, que te prende de uma forma muito
louca, na verdade. Os capítulos são curtos, alguns nem passam de uma página
inteira e isso faz com que a leitura seja muito fluída, porque você acaba
pensando algo como “só mais um capítulo”, e quando vê, já engoliu dez. Adorei
isso. Considerei a leitura bem fluída, com uma escrita que te faz entender
perfeitamente a mente do protagonista, seus anseios, suas paranoias, suas
agonias, imaginações e sentimentos.
O fundo é
apenas o começo é um livro que vai te tirar da zona de conforto
logo nas primeiras páginas. Confesso que, de início, o leitor pode se confundir
bastante, inclusive se não costuma ler sinopses, como eu. É que, no princípio,
não dá para “pegar” a intenção do autor, o que é que se passa na vida de Caden
e onde se pretende chegar com a divisão de capítulos, que vai contando
alternadamente sobre os dois mundos em que o protagonista se encontra. Mas,
mesmo assim, é impossível parar de ler, porque a questão é entender justamente
isso. E, não sei se o leitor irá terminar com respostas concretas para as
questões levantadas, mas vai entender perfeitamente como é que alguém com esses
tipos de delírios se sente. Como é que passam por isso e motivos que podem
levar a tais coisas, mas nada será classificado, portanto, leia, reflita,
perceba nas entrelinhas e tire suas conclusões sobre o quanto há de nosso
imaginário adentrando em nossa realidade e vice-versa. É que chega em uma parte
da leitura em que nos permitimos delirar junto com nosso protagonista...
“E eu vejo coisas. Quer dizer, não vejo exatamente, mas sinto. Padrões de conexão entre as pessoas por quem passo. Entre os pássaros que revoam das árvores. Há um sentido nas coisas do mundo, ainda que só eu possa encontrá-lo.
O momento
da internação, da medicação, das vivências em que Caden é submetido também
emociona muito. Acompanhar tão intensamente essas etapas na vida do personagem
foi forte e muito tocante. O autor soube nos permitir estar com ele, com todos
eles, nos permitiu não apenas ler sobre o que acontecia mas sentir exatamente
tudo o que cada um sentia. Outro ponto positivo da narrativa foi a conexão que
somos levados a encontrar entre o mundo real e o irreal de Caden. Nos sentimos
em outros lugares com ele...
Conclusão
De início, como falei, estranhei muito a leitura,
embora tenha lido bastante rápido vários capítulos de uma só vez. Logo assim
que percebi a intencionalidade contida na narrativa do protagonista, aquela
sensibilidade toda, aquele olhar além daquilo que costumam ver, aquilo que mais
ninguém anda vendo, percebi que, em certos pontos, me identifico com Caden. O que
são vistos como delírios são etapas da mente humana sendo arremessada a algo
que ultrapassa o que todos esperam de você. O que todos esperam que você veja,
seja, sinta, viva.
Caden é um tipo de personagem muito bem construído,
muito bem pensado e que me fez enxergar através de sua visão tão profunda sobre
as coisas. O fato de ele estar passando por algumas tempestades, em que sua
estrutura anda vulnerável e em um tremendo balanço sem fim, não o faz ser estereotipado
pelo leitor. Caden te faz ver além, e foi isso que me fez gostar tanto dele.
O livro toca profundamente o leitor. Senti que uma
parte minha estava sendo exposta nas entrelinhas dos pensamentos de Caden, um
personagem tão intenso. Senti como se eu estivesse sendo lida de vez em quando;
em outras vezes foi como se estivesse lendo a alma e a mente de Caden. A forma
como o livro foi escrita que te possibilita isso, pois foi perfeitamente bem
construído e minuciosamente pensado a cada capítulo, com intuito de permitir
que o leitor mergulhe na realidade irreal e na irrealidade tão real da vivência
do protagonista.
Há um mundo ilusório escapando pelas frestas de realidade da vida...
Eu gostei muito da leitura e recomendo!
Citações favoritas
“Lá embaixo é a eternidade [...] Não permita que ninguém o convença do contrário.”
“As coisas que sinto não podem ser traduzidas em palavras, ou, se podem, são palavras numa língua que ninguém pode compreender.”
“Minhas emoções têm o dom bíblico de falar em idiomas desconhecidos.”
“Se olhar para o abismo, ele olhará para você.”
“Há momentos em que me sinto como se fosse o garoto gritando no fundo do poço, e o meu cachorro sai correndo para mijar numa árvore em vez de ir buscar socorro.”
“Você sabe que pode tornar o navio de piratas tão real quanto qualquer outra pessoa, porque não há mais diferença entre o pensamento e a realidade.”
“Só porque a viagem é longa, não significa que você deva participar dela para sempre."
👉 Assista ao book trailer:
0 Recados
E você, o que achou do post? Me conte aqui nos comentários!
Deixe seu link para eu conhecer seu blog também. ;)