#Resenha: Canção de Ninar - Leila Slimani

by - maio 26, 2018


Título: Canção de Ninar

Autora: Leila Slimani

Editora: Planeta de Livros Brasil (selo TusQuets Editores)

Páginas: 191

Ano de publicação: 2018

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A História


Uma babá perfeita. Uma família linda. Dias incríveis... até que se tornam um tremendo caos. Até que tudo fuja do controle... e que ninguém mais consiga acreditar.

Louise foi a escolhida por Myriam e Paul, depois de uma seleção minuciosa, para ser a babá dos seus filhos.

Louise é perfeita. Cuida dos pequenos com muito amor e carinho. Sempre tão dedicada, tão atenciosa e muito feliz em poder fazer parte do crescimento daqueles pequenos... daquela família. Louise é mais que uma babá. Ela é uma segunda mãe. É amiga. É companheira daquele casal. Ela, além de cuidar muito bem dos filhos de Paul e Myriam, ainda ajuda nas coisas da casa. Lava louças, faz pratos magníficos de deliciosos... Louise, como disse, é perfeita.

Todos parecem sentir inveja por Myriam a tê-la encontrado, porque é difícil encontrar outras Louises dando sopa por aí, não é? Antes de contratá-la, Myriam confirmou com seus antigos patrões sobre quem era Louise, se era boa pessoa, boa babá, se era... confiável. Todos recomendaram Louise. Todos adoravam Louise.

Embora fosse perfeita, havia algo de diferente nela. Sempre tão... receptiva. Tão cuidadosa e nunca deixava passar nada por seus olhos sempre tão atentos a tudo. Louise era como uma caixinha de segredos, que ninguém sabia o que tinha dentro mas não fazia diferença, afinal, ela era boa no que fazia, e isso é o que importa, certo? Errado.

E Myriam vai descobrir isso das piores formas possíveis... até que se livrar de Louise não seja assim tão fácil. Até que a caixinha de Louise exploda em cima daquela linda família.

Os personagens


Louise é uma boa pessoa. Ela está sempre muito bem arrumada, apesar das tarefas diárias. Seus cabelos são penteados, unhas sempre pintadas, maquiagem aplicada à face, rímel em uma camada espessa nos cílios, é loura e elegante. Uma babá maravilhosa, recomendada por todos. Todos a adoram, porque ela cuida bem dos filhos de Paul e Myriam, cozinha pratos deliciosos, sempre mantém a casa limpa e não reclama de ficar até tarde quando necessário, pelo contrário, ela faz questão de ajudar sempre. Quando ela começa a trabalhar para o casal, cuidando de seus filhos, tudo em sua vida muda. Agora ela tem um novo propósito, novos dias, novos caminhos a percorrer. Louise é uma babá que nunca deixa nada escapar, está sempre atenta a tudo, é escrupulosa, anota tudo, nunca negligencia nada, cuida de tudo e de todos. Mas ela tem um passado. Um passado que está bem vivo em suas memórias, e que ela nunca deixa passar realmente...

“Paul e Myriam são seduzidos por Louise, por seus traços lisos, seu sorriso franco, seus lábios que não tremem. Ela parece imperturbável. Tem o olhar de uma mulher que pode compreender e perdoar tudo. Seu rosto é como um mar calmo, de cujos abismos ninguém poderia suspeitar.”

Myriam é uma mulher que largou tudo para cuidar de seus filhos. Quando ainda terminava o curso de direito, veio a engravidar pela primeira vez. É advogada, mas não exercia sua função por causa dos pequenos, dos quais sempre cuidara com muito amor e carinho, sem nunca tê-los confiado a outro alguém, até que Louise chega em sua vida. Myriam já não aguentava mais ficar em casa, ela precisava ser útil no que poderia exercer, ela precisava trabalhar, colocar sua mente para funcionar. Foi então que recebeu uma proposta de trabalho de um colega da faculdade, Myriam ficou deslumbrada, realmente animada com a ideia e resolveu contratar, pela primeira vez, uma babá para cuidar de seus filhos enquanto ela estivesse fora. No entanto, uma boa ideia a princípio nunca mostra suas verdades quando só conseguimos ver um lado da história...

Paul é um cara na dele. Quando Myriam engravidou de primeira viagem, Paul tinha certeza de que poderia trabalhar por dois e controlar as despesas, se dar bem em sua carreira de produção musical. Até que Myriam engravidou novamente, um ano e meio depois da primeira vez, mas ele estava bem, tinha acabado de ser contratado por um estúdio renomado. Ele acreditava que Myriam tinha sorte por poder passar os dias em casa, na leveza do lar, cuidando dos pequenos. Só que, depois de um tempo, Myriam se cansou. E ele foi contra contratar alguém para cuidar de seus filhos, acreditava que Myriam poderia fazer isso, mas acabou aceitando, afinal, encontraram alguém realmente perfeita para essa tarefa.

Mila é a primeira filha do casal. É uma menininha linda, que já está na escola. Ela é mais arredia que o pequeno Adam, é frágil com porte de bailarina. Ela acha que Louise é a mais linda das mulheres, com suas unhas sempre tão bem pintadas, Mila se insira em Louise, em sua forma de pintar as unhas, em como usa maquiagem, como está sempre elegante e arrumada. Mas Mila é uma criança que faz birra sempre para conseguir o que quer e é mimada.

Adam é o pequeno Adam. Ele é o filho caçula do casal, um bebê muito fofinho com suas dobrinhas pelo corpo miúdo, tem bochechas rosadas e fofas. Ele adora Louise, vive em seu colo, dorme bem durante à noite agora que tem a babá.

Capa, escrita e detalhes


Não fiquei muito fã da capa, apesar de ela ter tudo a ver com a história. Sei lá, penso que poderia ter sido melhor, mais bem trabalhada. O que quero dizer é que eu não compraria pela capa e, mesmo sabendo que isso não é o ideal, sei que muitos ainda se utilizam dessa prática tão comum quanto natural entre os leitores.

A escrita da autora é bem rápida, simples e diz “na lata” o que tem que ser dito. Acredito ser uma escrita diferente das que costumamos encontrar por aí, mas eu gostei da forma de como a história é contada. A leitura foi bem fluída para mim, porque as primeiras páginas são de arrasar qualquer coração, fazendo com que possamos engolir as próximas páginas.

Ainda com o coração na mão.

O livro é escrito em terceira pessoa. Ele vai contando os fatos conforme a história se desenvolve, com uma calmaria tranquila, mencionando cada pequeno detalhe, como se contasse a história em uma roda de conversa. Senti que era isso: uma roda de conversa, em frente a uma fogueira, em uma noite fria e sobre olhares cautelosos e temerosos com o final. E foi exatamente como fiquei, com as mãos frias e os olhos que nunca piscavam com medo de perder alguma coisa.

Gostei do fato de a autora ter trazido mais sobre o passado dos personagens, principalmente de nossa protagonista, Louise. O livro conta com narrações sob a visão de alguns outros personagens também enquanto narra o passado da babá, isso foi bacana. A narrativa nos permitiu mergulhar na mente dessa personagem, nos fazendo ficar perturbados como/com ela.

O livro é traçado por linhas nada cronológicas. O primeiro grande acontecimento do livro é, na verdade, o final de tudo. Mas nada tem fim sem um começo, não é? Por isso, o livro vem narrando para nós tudo o que aconteceu antes dessa tragédia toda, como foi que isso aconteceu, motivos intrínsecos, outros mais visíveis, mas sempre com detalhes postos à mesa, para que possamos compreender.

Não posso dizer que me identifiquei com o livro, nem com os personagens, mas acho que é pelo fato de eu não ser mãe, por exemplo. Mas percebi e compreendi todas as questões que a autora coloca à margem do clímax da história, o que me deixou ainda mais desesperada.

A conclusão


O que se conclui com um thriller desses? Eu não sei. O que sei é que foi uma leitura bastante perturbadora, imprevisível, chocante. Não se trata de um livro, como podem perceber pelo título e sinopse, que vai te deixar bem. É um livro que vai te deixar mal mesmo, que vem para te perturbar, incomodar, fazer pensar.

É um livro que adota inúmeras questões que precisam ser discutidas, mas que ninguém persegue nas entrelinhas a real necessidade, afinal, mulheres são feitas para terem filhos, cuidar dos filhos, da casa, do marido, de tudo, certo? Errado. Mais uma vez. E é isso que o livro também discute, essa pressão em cima de nós, mulheres. É isso que o livro aborda quando traz uma babá perfeita, mas que é uma mulher que vive as mesmas imposições. O livro também discute questões sociais, de classe, preconceito.

É um livro difícil de engolir exatamente por ser real.

Recomendo a leitura do mesmo para quem gosta de thriller psicológico, para quem gosta de suspense e para quem topa ler livro que vai te deixar realmente em estado de choque, pensativo e com vontade de rever seus próprios princípios.

As citações favoritas


“Nós só seremos felizes, ela diz então a si mesma, quando não precisarmos mais uns dos outros. Quando pudermos viver uma vida para nós mesmos, uma vida que nos pertença, que não tenha a ver com os outros. Quando formos livres.”

“O destino é perverso como um réptil, ele sempre dá um jeito de empurrar a gente pro lado ruim do caminho.”

“A solidão agia como uma droga da qual ela não sabia se queria abdicar.”

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