Caro passado,
Parece
que foi tão recente o nosso surto em se aproximar, mas revendo as datas nos
calendários novos de cada ano, vejo que tudo foi tão rápido, mas tão rápido,
que nem chegou a acontecer. Tivemos tanta oportunidade em nos levar pelas
próximas esquinas e postes da cidade, mas isso não procedeu. O ontem foi algo
tão entorpecente que nem valeria a pena citar.
Estávamos
no caos da insensibilidade humana, e o nosso extremo acaso de encontros nos
empurrava para o fundo a cada dia. E quando chegávamos lá, fazíamos de tudo
para voltar, sem contestar um ao outro. Você
não disse, eu também não. Nós tínhamos o mesmo a dizer, talvez, mas ninguém
resolveu estourar a bolha de orgulho que nos enfeitava. Mas foi melhor
assim, você sorriu para mim, e eu não mais pensei em dizer tudo o que eu já
devia ter dito há algum tempo. Agora que tudo já foi, não mais temos
necessidade em falar.
As
palavras sumiram e o desejo em abrir o coração também. Já deu o que nem chegou a dar. Podíamos
ter escrito histórias juntos. Ter tido umas vírgulas em meio ao vão que nos
separava. No entanto, ficamos com o nada, nem vírgula, nem ponto final. Como terminar algo que sequer começou? E
quando algo que se espera muito acaba não acontecendo, nós ficamos frustrados.
Pode ser que isso tenha sido realmente o melhor, cada um em sua calçada, sem
piscar para olhar para o lado e chamar pelo nome do outro. Já não faz mais a menor
importância.
Será que um dia
realmente fez?
Afinal,
o que foi que nos levou a pensar que faria? O tempo te fez bem, já não há mais
manchas em seu coração, porém teu riso ainda é como um alívio. O tempo nos fez
bem. E é assim que eu prefiro pensar, até por que não há sequer vestígios seus
em mim para que eu possa lembrar. Não há você em nenhuma anotação minha, nem em
nenhum riso, em nenhum abraço inesperado. Nenhuma
lembrança, porque, na verdade, nunca houve você. Nem eu. Nada sobre você e eu
passou, porque não houve o que passar. Muito menos o que ficar.
E
se nada fica, não há o que se possa lembrar. Se nada fica é sinal de que nunca houve algo de verdade, talvez
fosse apenas fantasia ou algo que sonhamos ainda acordados. Mas de uma coisa
tenho certeza: não há história de amor
quando os protagonistas não encenam juntos. O amor é muito mais que juras,
sabe? Descobri que nada fica quando nada
tem para ficar e devo isso a você. Afinal, não foi você quem foi sem sequer
ter vindo? Obrigada por não ter batido na minha porta.
Mas,
agora, querido passado, faça o favor
de fazer o que é destinado a fazer: passe.
Troque o nome "passado" por quem quiser e leia novamente.
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