Um vazio chamado mudança
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Deito
a cabeça no travesseiro velho que, de tanto uso, faz com que minha cabeça
mergulhe em seu buraco central. Suspiro. Respiro aliviada por mais um dia.
Respiro em agradecimento apenas por poder respirar. Viro de lado à procura do
aconchego da cama, sabe aquele gelinho gostoso do outro lado? Mas ele não vem.
Posso tentar de todas as formas, mas, de fato, o lugar que eu tanto adorava não
é mais o mesmo. E eu me pergunto quando foi que tudo passou a ser apenas mais um
vazio no quarto. Quando foi que minha cama deixou de ser a vítima dos meus
choros, do meu desespero e melodramas.
Observo,
enquanto ainda procuro um lugarzinho melhor na cama, o quarto manchado com uma
leve luz vermelha vinda do abajur de tomada que comprei. Nem as luzes coloridas
dão um toque especial mais ao lugar. Tudo parece tão sem graça. Tão, sei lá.
Imagino como seria se eu mudasse cada móvel do lugar. Faço e refaço projetos
decorativos e imaginários diversas vezes e espero que algo me agrade. Nada
acontece. E então percebo que faz um tempo que nada acontece. Não é que eu não
goste do meu lugar, do meu cantinho, mas parece que algo está se somando ao
lugar, mas eu não vejo o que é. Porque não está aqui.
Levo
um tempo para perceber que a vida é feita de fases e que, talvez, essa fase em
que estou esteja chegando ao fim. É estranho dizer que tenho medo? Que tenho um
medo da porra do que pode vir depois? A gente vai tentando fugir, não é? A
gente tenta fugir o tempo inteiro das correntezas que nos levam para o meio do
oceano, em um lugar onde ainda não estivemos, em um lugar diferente, mas meu
medo mesmo é que eu não saiba nadar. Eu não posso me deixar levar até que pare
em um canto qualquer. Tenho que saber guiar, mas nunca fui boa em direções.
Nunca fui boa em apostas. É que, mesmo com o quarto
vazio e a vida estacionada por já ter percorrido todo o caminho dessa fase,
tenho o direito de não querer ir. E, no entanto, será mesmo que pretendo ficar?
Não há manual e talvez esse seja o único lado bom: nenhum de nós saberá como vai
ser.
Seremos
condutores. Seremos os construtores daquilo que está por vir, seja lá o que
isso queira dizer. Olho para o relógio pela última vez tentando encontrar as
respostas para minhas incertezas: está na hora mesmo? E cada vez mais eu tenho
certeza que só nós mesmos podemos chegar a essa conclusão, e a única coisa que
tenho certeza é que tenho medo dessa próxima fase. E mais ainda quando sei que
pode acontecer mais rápido do que eu sequer poderia imaginar. Não estou pronta, mas vou sem me aprontar
mesmo. Afinal, a vida não espera que a gente se apronte, ela vai, se não formos
junto, ela nos engole.
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