Quando ninguém está olhando
Imagem via Pixabay |
Sinto-me
nua. Com a alma descalça e o coração despido. Sinto que tem muito mais de mim
por aí. Como se eu usasse a transparência como roupa principal. Sinto que tem
muito mais de mim, mas que não sei onde tenho guardado, sabe? A verdade é que
acredito que tenho guardado de mim mesma, tanto que perdi. Sumiu por aí e não
mais encontro. Talvez tenha escondido, como um escudo, por precaução. Ou por
mais pura e sombria insegurança. Sinto a nudez atingir cada parte do meu mundo
de dentro, como uma avalanche que me deixa descoberta.
Sinto
que estou me entregando ao fato de que sou a intensa transparência. Mas, sabe
quando a gente tem medo de que nos descubram? Tenho medo de que me traduzam. De
que me interpretem ao fundo. E que, no final de tudo, cheguem a lugar nenhum. De
que entendam que sou vazio quando não sei mais o que esperar dos próximos dias.
De que percebam que me entrego de corpo e alma, sem rodeios. De que sintam o
quanto sinto tanto.
A
ideia de que me olhem e realmente me vejam apavora, porque sou segredo, mesmo
sendo transparente. É que a gente sempre usa capa. A gente sempre se protege. Esconde,
bem no fundo, como realmente somos. Como realmente pensamos e sonhamos tão
profundamente. Ninguém nos lê até a última página, porque não temos uma...
somos infinitude. Nem nós mesmos nos decodificamos. Nós só sentimos. E é
sentindo muito que passamos a esconder os sentimentos.
Há
um abismo onde sempre houve borboletas somando a liberdade. Há uma dúvida onde
sempre houve passos firmes virando qualquer esquina. Há medo onde sempre houve
sonhos inquietos. Sinto que meu edifício interno está com as luzes acesas. Todas
elas. Iluminam quem realmente vive dentro de mim. Como se eu fosse a própria
luz. Como se não importasse o que quero esconder. O que não quero que vejam. O que
eu decidi que não vale a pena mostrar. Mas, sabe, a gente sempre faz seleções
de nós mesmos.
Só
que a gente sempre anda no modo automático e, vez ou outra, nosso eu, aquele que aniquilamos, escondemos
à sete chaves, acaba escapulindo sem controle. É que a verdade é que nunca
conseguimos viver nos escombros por muito tempo. Uma hora ou outra, nos
invadem. Uma hora ou outra, permitimos que nos invadam. E, pior, que façam
morada. Que decidam ficar. Que queiram ficar. Nos tornamos um lar. Se não é
para mais alguém, é para quem nós somos quando ninguém está olhando.
Nos
tornamos abrigo de quem somos de verdade e vivemos tentando não escapar sem
querer por aí... Ou, simplesmente, tentamos realmente não escapar por querer.
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