#Resenha: Não conte nosso segredo – Julie Anne Peters
Título: Não
conte nosso segredo
Autora: Julie
Anne Peters
Editora: Universo dos Livros
(selo Hoo Editora)
Páginas:
304
Ano de publicação:
2017
“Corte o final. Revise o
roteiro. O cara dos sonhos dela é uma garota.”
A História
Não importa quem, quando a gente
ama, quer estar junto. Não importa quando, quando a gente ama,
precisa ficar. Não importa como, quando a gente ama, a gente ama e
pronto.
A não ser, é claro, que isso
venha contra os padrões sociais. Porque, se isso acontecer, então
será o seu fim.
Holland experimentou toda essa
sensação. Não se trata de um amor proibido, se trata de um amor
aniquilado, julgado como incerto, sujo. Como se fosse um insulto à
humanidade. Holland se tornara um insulto quando, à beira do “não
sei quem sou nem para onde vou”, se
depara com mais um dilema: ela ama alguém que não pode amar. E,
como eu disse, não se trata de um romance proibido, se trata de um
amor que vai contra os padrões. Holland é uma garota que ama uma
garota.
O quê? Que absurdo…
Sapatão?
Não podemos deixar...
Mas como pode? Se ela namora
um garoto?
Holland
está passando por um período difícil em sua vida quando não se
sente mais parte dela.
Há algo fora dos trilhos e ela não sabe o que pode ser. Afinal, ela
é uma garota linda, tem um namorado lindo, uma família que a ama, é
integrante do conselho estudantil, tem melhores amigas e o
que mais poderia pedir? Com certeza não seria toda a reviravolta que
sua vida dá tão de repente, lhe apresentando a verdadeira face
injusta e cruel de uma sociedade preconceituosa
e desigual.
No
entanto, agora ela está
sendo ela mesma. Agora ela se
sente inteira. Viva.
E o mundo inteiro precisa saber de seu amor…
Mas
é provável que ninguém queira ouvir.
O
que fazer quando você se aceita, mas não é aceita por se aceitar?
Personagens principais
Holland é
uma jovem incrível que tem tudo que uma garota poderia desejar. Ela
é popular em seu colégio, é linda, todos a respeitam, ela é do
conselho estudantil da escola, é boa aluna, namora um cara
incrivelmente lindo, só há um problema: ela não é mais essa
pessoa. E talvez isso não seja bem um problema.
Holland
está em uma passagem de descobertas em sua vida, ela anda
descobrindo muitas coisas ultimamente, principalmente sobre si mesma.
Sobre quem é de verdade. Ela está no último semestre da escola e,
agora, as escolhas e decisões sobre o futuro estão por vir. No
entanto, estaria ela preparada para tomar tais escolhas se ainda não
se encontra inteira? Se ainda não se sente ela mesma? Ela nada.
Nada, nada, nada. Talvez por querer mergulhar e, quando voltar às
margens, se encontrar em outro lugar. Talvez por não estar se
encontrando no raso, buscando solução no profundo. Mas uma coisa é
certa: ela não quer estar ali. Não como quem é hoje, porque,
agora, ela descobriu ser outro alguém. E isso aconteceu logo quando
ela prendeu seus olhos nos olhos dela: Ceci.
E é exatamente aí que Holland vê seu mundo inteiro, perfeitinho
demais, desmoronar…
Ceci! Ah,
Ceci. Sabe uma garota determinada? Do tipo que rasga o verbo e, mesmo
que esteja com medo, arrisca? Ela se chama Ceci. Ceci é uma loira
bonita, porém não como todas as outras. Ela é totalmente
diferente. Ela causa sensações diferentes. Ela prende o coração
de Holland com apenas o olhar. Ela é gay. Assumidamente
gay. E deixa isso bem claro em suas camisetas diárias, suas atitudes
e movimentos. É claro que ela luta pelo movimento LGBTQ+.
É claro que ela luta por ela, todos os benditos dias. Mas ela também
tem medos. Segredos. Mas ainda faz de tudo para permanecer de pé.
Ela
é nova no colégio e, bem, injustamente, como só a sociedade sabe
ser, não é bem aceita onde está. E, todos os dias, ela precisa
lidar com uma série de preconceito e discurso de ódio gratuito. Ela
é delicada, apesar de parecer mais durona. Quando põe seus olhos em
Holland, ela simplesmente sabe. Sabe também que Holland ainda não
sabe, então a permite se encontrar sozinha. Ceci a quer, mas precisa
que Holland queira também, sem ajuda. Ver o amor da sua vida com
outro não é a coisa mais legal do mundo. Mas Ceci suporta tudo. Ser
exposta à uma sociedade cruel e injusta talvez seja realmente a
coisa pior do mundo, mas Ceci está de pé, simplesmente por não
poder desistir de quem realmente é.
Personagens secundários
Seth é
o melhor amigo de Holland, mas ele é também seu namorado. Um cara
lindo, com corpo bonito, que trata bem sua namorada, que se importa
com seu futuro e objetivo de vida e que quer compromisso sério, quem
não gostaria, não é mesmo? Essa pessoa se chama Holland. Não tem
a ver com Seth. Ele é bom. Tem a ver com quem ela é. E ele
fica totalmente irritado quando descobre.
Faith
é a meia-irmã de Holland.
Ela não mora com Holland,
mas passa uns dias por lá, portanto, acabam dividindo um “quarto”.
Ela tem um estilo singular, é gótica declarada e tem uns rituais
que adora praticar, mesmo que a irmã a implore para não fazer isso
no mesmo ambiente que ela. O jeito de Faith é rejeitado pela
madrasta, mãe de Holland,
e até mesmo por Holland,
então ela não tem bom relacionamento com elas.
Leah
é amiga de Holland
desde a infância. Ela é uma boa amiga e está sempre querendo
ajudar, se encontrar, voltar aos velhos tempos de amizade. E, o
melhor de tudo, não é do tipo preconceituosa.
Kirsten é
amiga de Holland e Leah.
Pelo menos é o que parece. Ela é uma menina um pouco fútil e
completamente preconceituosa. Se
preocupa demais com as aparências. Ela é o tipo de amiga que
ninguém desejaria ter se a conhecesse profundamente.
Capa, escrita e detalhes
A capa é a coisa mais linda! Eu
amei! Romântica e tudo, mas o que mais me chamou a atenção foi a
delicadeza retratada. Achei demais.
A escrita da Julie é
extremamente fluída. Li o livro muito rápido. É uma escrita nada
melancólica, sabe? Não é enjoativa, que nem às vezes encontramos
em romances. E é uma escrita que retrata bem os personagens. A única
coisa que senti falta foi de detalhes do tipo de fisionomias, pois eu
não consegui decifrar bem essa parte das protagonistas, então tive
que me prender ao retratado na capa. Hehe.
Os detalhes da história são
todos voltados às descobertas que Holland faz em sua própria vida.
Mas também há toda uma história que ronda em volta de Ceci, desde
sua família, seus momentos, sua vida. Achei bem interessante a
autora ter apostado nos dois lados da moeda: de um lado temos uma
família que não aceita de forma alguma que a filha seja gay, e de
outro temos outra família que aceita melhor, que está se adaptando
a isso aos poucos e que jamais desamparou sua filha por causa disso.
E foi importante para nos fazer pensar sobre nossas atitudes também.
Sobre de qual lado nós nos encontramos. Afinal, que tipo de
família somos/seremos?
Inclusive, o ponto alto do livro
é a aceitação de quem se é verdadeiramente. E o pior disso tudo é
saber que mesmo que você se aceite, a sociedade poderá não
aceitar, como se alguém pudesse dizer como devemos ser. Quem é a
sociedade para isso? Somos quem somos e ponto. E o mais legal, que eu
consegui sentir, foi que a protagonista não passou por uma série de
não-aceitação, sabe? Ela foi, aos poucos, sentindo e aceitando o
que estava sentindo, porque é lindo. Porque é bom. Não faz mal a
ninguém.
Até que os acontecimentos crués
da sociedade de merda vêm para determinar como deveríamos ser.
E então a gente sofre junto com
os personagens. A gente se doa junto deles e compreende perfeitamente
o que é passar por isso, mesmo nunca tendo passado.
O único ponto negativo que
encontrei, sinceramente, foi no final. Eu não engoli. Só isso não
bastou para mim, sabe? Eu precisava de mais. Não foi assim que eu
desejei. Não foi isso que imaginei para Ceci e Holland, portanto, eu
achei que faltou umas páginas que pudessem redigir um pouco mais
sobre esse amor. Sobre o depois.
Conclusão
Conclusão? A conclusão que
cheguei não é nova. É a que vemos todos os dias, o quanto somos
preconceituosos e o quanto práticas gratuitas de ódio são
distribuídas ao que não conseguimos entender. Ao que nos é novo.
Diferente. Fora do padrão criado e seguido à risca por uma
sociedade cega e controlada.
O livro nos faz olhar para nossas
próprias atitudes. Aquelas que muitas vezes nem percebemos e
acabamos reproduzindo. Ao rir de uma piada ofensiva. Ao não fazer
nada quando ouvimos discurso de ódio gratuito aos “fora do padrão
social”. Ao nos retraímos na presença de um “deles”.
Entre. Muitas. Outras. Merdas.
Dessas.
Estamos lidando com pessoas.
Pessoas como nós, sabe? Mas que, ao contrário de muitos, ligaram o
foda-se e decidiram se amar.
A transformação da protagonista
nos dá um tapa na cara. Ela muda drasticamente e precisa lidar com
um mundo totalmente novo, mas jamais abaixa a cabeça, sabe?
Eu amei o livro. Amei o romance.
Amei as protagonistas. Ceci é puro amor. Holland é do tipo sincera,
que fala na lata e que aceita mudanças de forma magnífica.
Super recomendo o livro.
Para. Todo. Mundo.
Citações Favoritas
“Essa sensação de inércia me deixou petrificada. Às vezes, eu me pegava mirando meu reflexo nas janelas e me indagando quem eu era, aonde estava indo. Então a imagem mudava e não era mais eu, apenas a sombra nebulosa de uma pessoa. Um metamorfo vazio, frouxo.”
“A vida era mais fácil quando éramos crianças. Não girava em torno das mudanças, das escolhas e de seguir adiante. Vivíamos o momento. O tempo era eterno.”
“Por que ela fazia com que eu me sentisse balançando à beira de um precipício? Um passo em falso e eu mergulharia no abismo.”
“Às vezes, eu tinha a sensação de não haver amanhãs, de que tudo, toda a minha vida, estava embutida em um único e interminável dia.”
“Mas, a cada vez que eu voltava, ela desaparecia. Como se fosse uma miragem. Ou uma ilusão. Era isso, uma ilusão. Assim como minha vida… uma realidade, só que fora de alcance.”
“Poderia me perder entre os escombros. Ainda assim, ela fazia com que me sentisse mais viva do que nunca. Passarinhos azuis, borboletas no estômago e fogos de artifício.”
“Estavam errados quando chamavam isso de “estar no armário”. Era uma prisão. Confinamento em solitária. Eu estava trancada do lado de dentro, dentro de mim, no escuro, com medo e sozinha.”
“Confiança. Tudo isso tinha a ver com confiança. Você não tem nada, a menos que possa confiar na pessoa que ama.”
Nota da leitura:
0 Recados
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