Para você guardei o adeus que nunca quis dar
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Eu sorri ao te ver chegar em
minha vida, com um sorriso de bom dia e um olhar triste de boa noite
ao ir embora. Eu quis tanto dias melhores ao seu lado. Uma noite e
nada mais nunca foi muito meu forte, sabe? E você era do nada mais.
Você sempre quis algo diferente de mim, não sei bem o que dizia sua
profundeza. No fundo, eu sabia que você lutava contra mim. Não
fisicamente, claro, mas emocionalmente. Eu sempre soube que mexia
contigo, naquele seu lado mais sombrio, eu te entendia, lembra? Não
era preciso ser dito uma só palavra, pois nossos olhares se
entendiam no silêncio. Era nossa melodia preferida, os sussurros dos
gestos carinhosos e o olhar silencioso. Aquele que acalenta a alma,
sem sequer verbalizar.
Nós não verbalizámos
amor, nós o sentíamos.
Até onde eu sei, você virou
várias e várias esquinas. Todas diferentes de mim. Todas sem que
nossos passos se encontrassem por aí. Foi então que percebi que o
mundo era grande demais para nós dois. E que nossos sonhos, muito
opostos, trilhavam caminhos que não nos permitiriam um encontro. E
tudo bem, sabe? Afinal, o que sobrou de nós? O que sobra quando o
que temos é um silêncio incontrolável de palavras não ditas? Eu
passei a me incomodar com nossa melodia muda quando não soube mais
entender as notas. Quando não mais consegui decifrar seus olhares.
Eu sabia que isso aconteceria um dia. Então parei de retrucar seus
olhos com meus olhares confusos. Parei de tentar tocar nossa música.
Parei de memorizar seu silêncio. Deixe de ler seus pensamentos.
Esqueci as chaves das lembranças de nossos poucos momentos de
ternura. Já não conseguia mais entrar em sua alma, entender seus
sentimentos.
Eu desisti de traduzir você.
Eu tive que inventar um adeus
para nós quando não mais consegui enxergar chegadas. Tive que me
virar para erguer uma bandeira de adeus e te deixar ir, fosse para
onde fosse. Ergui um adeus para que não mais sofrêssemos com o que
não entendíamos. Com o que não tínhamos mais como controlar. Nós
sempre falamos a mesma língua, mas, de repente, você passou a ser
impenetrável. Deixou de esconder, mas jamais foi claro o suficiente.
Você fugiu do que jamais conseguiu ter. Do que jamais conseguiu ser.
E tudo bem. Não somos obrigados, lembra? Nosso dilema era viver o
que dava, o quanto dava, até continuar dando. Então, quando parou
de dar certo, eu decidi te deixar ir.
Para você guardei o adeus que
nunca soube dar.
Quando olhar para trás, ainda
poderá ver vestígios meus em suas lembranças. E eu não sei como
decidirá lidar, mas, caso resolva ir atrás dessa miragem,
encontrará um adeus deixado ao lado do que nunca chegamos a ter. Não
haverá carta. Afinal, nunca foi preciso ser dito uma palavra. Não
verbalizamos amor, então o adeus jamais será dito, só que você
vai sentir, da mesma forma que eu. Tive de lidar com sua ida sem
adeus, lide com o meu adeus sem sequer ter sido preciso que eu fosse
embora. A verdade é que nunca estive aqui. Nunca estivemos aqui um
para o outro. Uma hora precisaríamos aceitar. Fomos impenetráveis
juntos, nunca nos permitimos dar certo.
O adeus era só uma parte de nós.
A parte que tentávamos fingir não ver.
Até não sobrar outra
saída.
O adeus nos venceu.
2 Recados
Que texto profundo Sam e muito bem escrito...
ResponderExcluirBjs lindona
Oi, lindona!
ExcluirVocê sempre me lendo. Obrigada por isso!<3
Volte sempre e sempre.
Super beijo,
Sâm.
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