#Resenha: Garota em pedaços – Kathleen Glasgow (Selo Outro Planeta)
Título: Garota
em pedaços
Autora:
Kathleen Glasgow
Editora: Planeta
de Livros (Selo Outro Planeta)
Páginas:
384
Ano de publicação:
2017
Nota da leitura: 4,5/5
Onde comprar: Amazon * Saraiva
* Cia dos livros
A História
O que você faria se perdesse seu
pai de forma trágica, além de sua melhor amiga, apanhasse de sua
mãe e fosse expulsa de casa aos dezessete anos?
Charlotte é uma adolescente que
pratica o “cutting”, o ato de automutilação, onde se cortar
virou um vício em busca de fuga. Ela sofreu bullying durante anos na
escola e, após perder seu pai e sua melhor amiga, precisa lidar com
o Transtorno do Controle do Impulso – o ato de se cortar – em um
tratamento no Creeley, clínica específica onde todas as outras
garotas também o praticam. Ali ela está bem, mas após essa estadia
toda, Charlie deverá seguir sua vida, seguindo à risca as normas,
tentando, mais uma vez, sobreviver sozinha no mundo.
Então, ela vai para Tucson, no
Arizona (EUA), e lá encontra mais desafios para se manter de pé.
Ela arruma um serviço, um teto onde morar e até o que espera ser um
amor, mas, por mais que tente fugir, seu passado lhe persegue e sua
impulsividade estará a um passo de levá-la ao colapso novamente.
Mas, sabe, ela vai ter que aprender a não mais sobreviver no mundo,
mas viver. E ficar bem, apesar de tudo.
Personagens principais
Charlotte ou Charlie é uma
garota com um passado ruim, várias histórias tristes na mala,
vícios e temperamentos de automutilação nas costas. Ela tem quase
dezoito anos e se vê totalmente perdida na vida, mas agora decide ir
atrás de viver, de não mais sobreviver. Só que ela ainda continua
se metendo em encrenca e não consegue se livrar, até que tudo
desmorona e ela terá por obrigação tomar decisões difíceis de
uma vez por todas.
Ela é magra e tem o corpo todo
cortado, por isso vive usando blusas com mangas compridas para
esconder suas cicatrizes, embora não saiba que seu semblante as
expõe. Tem baixa autoestima, afinal quem gostará de alguém com
tanta cicatriz? Seu cabelo está muito curto e sua aparência não é
das melhores, já que o pouco que ganha mal dá pra pagar o que come.
No entanto, ela escolheu não desistir.
Riley é o carinha mais estranho
da face da terra. Ele é um gato, tem cabelos longos e é considerado
um astro do rock por todos, apesar de não passar de um alcoólatra
viciado. O cara escreve e canta boas músicas, é conhecido por
todos, mas vive causando problemas por causa de seus vícios.
Imprevisível ao último. Dias bons, outros péssimos, assim ele vai
levando a vida. Ao que parece, o cara não vai medir esforços para
carregar quem estiver perto dele para o buraco também, por mais que
pareça o contrário.
Personagens secundários
Mikey é o amigo de Charlie, mas
ela tem sentimentos a mais por ele. Ele é o cara dócil e legal que
a ajuda quando sai da clínica. Ele encontra com ela já em Tucson, a
trata muito bem, tem carinho por ela e tenta a ajudar como pode,
porém ele está em uma banda que está viajando a trabalhos,
portanto, nem sempre estará presente como gostaria.
Blue tem quase trinta anos, porém
sua aparência não demonstra isso tudo e também carrega momentos do
Creeley. Ela tem um corpo sensual, não tem pra onde ir, além de
ainda manter seus vícios. Será que ela irá ajudar Charlie ou a
afundar ainda mais?
Louisa foi a primeira paciente a
entrar para o Creeley e está lá até hoje. É uma garota bonita,
está sempre escrevendo em seu caderno e mantém sua aparência
intacta, com seus vestidos e penteados impecáveis. É com quem
Charlie começa a manter contato, pois as duas acabam ficando no
mesmo quarto.
Linus é a cozinheira do café
onde Charlie acaba trabalhando. É uma garota com extinto protetor,
mas bacana e tenta de tudo para ajudar Charlie.
Jule é a irmã de Riley, dona do
café onde Charlie trabalha. Ela sempre protege o irmão de tudo e
todos e acaba se culpando por ele ser quem é.
Tanner é irmão de Linus e está
estudando para ser enfermeiro de emergência, também ajuda Charlie
como pode.
Capa, escrita e detalhes
A capa do livro, não sei, me
passou uma curiosidade, porque ela foi trabalhada em cima da história
e tem alto relevo nos traços que cortam as palavras do título, o
que eu amei, então eu gostei bastante.
Aliás, o título do livro é
incrivelmente perfeito, a meu ver. Eu amei, porque faz total sentido
com a história, aliás, o título é a história inteira, sabe? Dá
uma sensação de tristeza só de lê-lo, mas também uma necessidade
de entender todo o contexto.
Agora, a escrita dessa autora é
simplesmente TUDO! Estou completamente encantada, sabe? Marquei
taaaaaaaanta coisa, gente. Tive que deixar um marcador pertinho de
mim para não perder nada! Está de parabéns, Kathleen (que eu não
conhecia até ontem, haha), por sua escrita tão rica, relaxada,
fluente e que encaixa perfeitamente na história inteira.
Meu único ponto negativo vai
para a construção do final da história. Não é que eu não tenha
gostado. Não é como se não fizesse sentido, até faz, mas acho que
poderia ter sido mais trabalhado. Inclusive, houve acontecimentos que
julguei desnecessários também, aconteceu tanta coisa detalhadamente
e, no fim, foi tudo rápido demais. Só que o fim até que fez
sentido e tal, mas acho que poderia ter sido mais elaborado (o que
não me permite dizer como, já que poderia soltar spoiler,
sorry!).
Mas, enfim, eu entendi
perfeitamente o que a autora quis mostrar e tal e respeito isso.
Conclusão
Então, Sâmela, você
gostou ou não, garota?
AMEI! Mesmo achando que o final
poderia ter sido um pouco melhor, gente, essa leitura foi muito
importante para minha vida. Algo que as pessoas julgam muito é a
questão de se cortar, então, não é que eu julgasse ser besteira
ou frescura, mas também não entendia o ato. E agora, passei a ter
outra visão diante de tais circunstâncias.
E o que mais me prendeu ao livro
mesmo foram as diversas histórias absurdamente tristes e ferradas
que ele descreve. Gente, todo mundo tem sua história e o livro
retrata bem esse fato. Não dá pra julgar a dor dos outros, porque
não é em nós que dói. Também não dá pra medir as dores, tudo
que dói, dói muito e ponto. Cada um sabe o fardo que carrega na
vida e o quanto machuca ter que suportar tanto. E o quanto ainda
podemos suportar.
O livro retrata a superação.
São tantas pessoas ferradas que aparecem no decorrer do livro que me
peguei perguntando “mas, gente, onde fica esse lugar que só tem
gente ferrada?” e quando digo ferrada, falo sentimentalmente,
emocionalmente, mentalmente. Pessoas que passaram por coisas
terríveis na vida e que, ainda assim, sobrevivem. No meio de tamanha
injustiça no mundo, em meio a tanta merda, a tantos caminhos
tendenciosos que te afundam, elas ainda respiram fundo e esperam o
próximo amanhecer. Superam.
Estou entancada com essa história
que fala sobre tantas outras histórias. Estou encantada demais para
falar sobre meus próprios fantasmas, mas ainda estou exposta com
essa leitura. Minha alma, mais uma vez, está nua agora. Qualquer um
pode me ler sem sequer passar da minha capa.
Recomendo muito para todas as
pessoas e, aqui, não irei selecionar leitores por diferentes gêneros
literários, porque, sinceramente? Recomendo a todos mesmo, sem
exceções.
Citação
“Uma menina de ouro, de confiança, uma menina de ouro, de confiança: uma cantiga de ninar da menina que se corta inteira”.
“Eles têm quase a mesma idade, mas há um abismo entre eles”.
“Não vá morrer.” A tinta sangra na chuva.
“As coisas velhas, os hábitos velhos nos trazem certo conforto, mesmo quando a gente sabe que eles vão causar dor. Você está indo para o desconhecido.”
“Do lado de fora, o céu é uma colcha de retalhos de nuvens gordas.”
“Tudo e todos que estão estragados têm conserto.”
“O céu é um tecido denso e escuro, costurado com estrelas brancas suaves, uma coisa que me dá vontade de pôr a mão.”
“É assim que corações são partidos, sabe? Quando você acredita em promessas.”
“Você guarda as pessoas dentro de você, é isso que acontece. As lembranças e os arrependimentos engolem você, elas vão crescendo na medula da sua alma e depois…[…] - E aí, bum, você explode.”
“Um buraco começa a se abrir dentro de mim, uma coisa feia. Com tanta gente aqui, estou totalmente sozinha.”
“O rugido de um oceano, o rodopiar de um tornado. Estou sendo engolida.”
“Esse cambaleio é o que determina os passos de uma pessoa quando ela começa a ficar vazia e não se importa em reconstruir ou substituir o que foi perdido.”
“Estou afundando e estou tentando não flutuar, porque eu quero, quero mesmo ir até o fundo.”
“É tão sorrateiro como acontece. Como linha entrando por uma agulha: silencioso e fácil, depois é só dar um nozinho na ponta para segurar.”
“Talvez coração partido por estar no mundo quando não sabe como estar nele.”
“Estou tão partida. Não sei onde todas as peças de mim estão, nem como montá-las, nem como fazê-las se grudarem. Nem se consigo.”
Nota: 4,5/5
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