Não era pra ser
Eu planejei você e eu. Tinha
flores, um perfume delicado e amadeirado. Tinha um efeito como no
preto e branco que, de repente, se colore. Não desbota com o tempo.
Ganha cores ainda mais brilhantes. Tinha luz, não tão forte como a
lâmpada, mas radiante feito o sol. Não tinha efeito sépia, mas
parecia cena de filme antigo. Sem roteiro, sem figurantes. Só você
e eu caindo na lástima do romance cinematográfico, em pleno
flagrante. Talvez tenham sido os pássaros que espalharam nossas
cenas. Talvez tenha sido o tempo que, passando, debochou de nós por
tudo aquilo que ficou na memória de um planejamento perfeito, mas
que nunca existiu.
Eu planejei você e eu, e o beijo
que eu não te dei ainda está lá, bem no fundo da vontade acumulada
de ter feito parte das cenas reais, não só as que surgiram antes de
dormir. Era doce, nada como gosto de balas, talvez como a sintonia da
poesia que nos transmite paz, doçura e esperança nas coisas belas.
Era simples, nada demorado e nem como desentupidor de pia. Era
diferente, novo, fora do comum, talvez por ter sido tão elaborado
antes. O beijo era assim, sem início, meio, só mesmo com um fim.
O beijo que não te dei ficou lá
nos planejamentos que adotaram eu e você como protagonistas. E mesmo
que já não existam mais, existiu um dia. Não o beijo. Não o
abraço. Não o dia marcado. Mas existiram as palavras não ditas
que, sinceramente, nós dois sabíamos. Quem via, percebia no
silêncio do nosso olhar, assim como nós percebemos que era pra ser,
mas que jamais seria. Não houve amor, porque nós desistimos de
tentar. Se é que tentamos algo. Se é que havia algo. Mas, sabe? Já
não importa mais, rapaz.
Já não vai adiantar me
infiltrar com seu olhar, depois de anos, por trás da carcaça que já
não mais conheço. Não há chance, porque nunca quisemos uma de
verdade. Não há esperança, porque nunca entramos pra fila. Não há
amor, porque nunca permitimos que fosse. O beijo que eu nunca te dei
já foi dado, na verdade, no cara que invadia meus pensamentos em
madrugadas estranhas e sem sentido. Foi deixado no papel do roteiro
nada planejado de um filme em que nunca atuamos. Não viramos
romance, cara. Viramos pó. Parte daquilo que deu apenas uns dois
passos para o futuro e incontáveis para o passado.
Eu planejei você e eu, mas a
vida nunca considerou nossos encontros. Somos inúmeros desencontros.
E o beijo ficou lá, no lugar de onde nunca permitimos que saísse. E
o mais estranho é perceber que, mesmo que nós tivéssemos embarcado
nessa história, jamais faríamos sentido, porque nós nunca fomos
compreendidos totalmente um pelo outro. Nunca seria amor, porque não
dá pra fugir daquilo que se ama. Houve fuga em nós. Houve um beijo
marcado pela realidade que nunca existiu de verdade. Houve um começo,
mas nunca seria com destino ao futuro. Fomos o começo de um passado
distante, tão distante que podemos até não esquecer, mas jamais
sairemos ilesos por lembrar.
A gente sorri ao lembrar coisas
boas. Chora ao lembrar coisas que talvez teriam sido boas, mas, no
fundo, não foram. É que a gente cresce e percebe no hoje, coisas
que jamais veríamos no passado. O passado não esconde apenas nossos
segredos e histórias, mas nos proporciona experiência e
aprendizado. E, com você, aprendi a nunca desistir daquilo que te
faz perder o sono à noite. Irônico, não? E hoje só perco mesmo a
conta de quantas vezes sorri com o coração e me devolveram com a
alma. Porque nós não poderíamos ter sido, nós somos.
Mas a gente? Nunca foi, porque, simplesmente, não era mesmo pra ser.
2 Recados
Eu senti, Sâmela. Lindo texto s2
ResponderExcluirQuem nunca passou por isso, né!?!
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Oi, Mariana!
ExcluirObrigada, linda.
Pois é, quem nunca? Acho que é por isso que nos identificamos tanto, sempre passamos por coisas semelhantes.
Obrigada pela visita.
Volte sempre!
Um beijo,
Sâm.
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