Um nada no meio de tudo
Naquele
dia nada mais importava. Eu já não tinha mais uma ânsia em retas
paralelas. Nem em curvas perigosas. O que eu tinha em mente era um
tremendo nada. Um vácuo mais profundo que meu próprio coração em
situações críticas de falta de carinho. Sabe quando você vai indo
sem esperanças? Acontece que, tem hora que o tempo já não te diz
muita coisa. Que o sol já nem faz mais diferença, porque, seu dia
parece uma tremenda nudez constante. O nublado alcança a alma de um
jeito que nem importa mais se vai chover ou não. Dias sem luz
parecem fazer mais efeitos quando estamos com um ar de tanto faz para
tudo. Ou para maioria das coisas. A cor preta torna-se um baita
colorido e se repete de segundo em segundo. O relógio estava parado
na minha mesma linha de pensamentos.
Naquele
dia, nada mais importava. No entanto, que será que já havia
importado tanto?
Não
adiantaria alguém bater na porta e perguntar o que estava
acontecendo. A música tocava tão alto que eu mal podia ouvir meus
pensamentos. O objetivo era não pensar. Não colocar os miolos para
trabalhar. Eu só queria ficar ali, no meio de toda minha petulância
pelos rumos da vida. Eu só queria silêncio de humanos. Um tempo de
pessoas. E de mim também. É que tem dias que você precisa de paz
interior, de mergulhos mais rasos, não tão profundos quanto
costumam ser. E eu estava apenas precisando desabrochar um pouco
mais. Dar asas à minha mente para voar até onde quisesse. Tem hora
que chega de chegar tanto, que nunca é o suficiente. Precisava ver o
brilho nos meus olhos e saber de onde veio, por que existe, e como
sobrevive esse tempo todo.
A
fome já havia ultrapassado meu estômago e chegado ao coração. A
impaciência que havia me atormentado a manhã toda, já nem fazia
mais cócegas. Mas eu ainda estava ali. Da mesma forma que acordei da
noite mal dormida e mal sonhada. Mal idealizada. De idealismo mesmo,
só havia me restado os sonhos. Andava mesmo precisando carregá-los
com mais afeto. Mais determinação. E era isso que eu menos tinha
naquele momento. Tudo era escuridão. Sabe quando você tá acordado,
porém não quer sair da alma? Se você leu ou pensou em cama, sabe
bem do que estou falando. Os pensamentos flutuavam nas nuvens e nem
por isso me sentia firme. O medo passava pela garganta seca, em busca
de algo para ser dito. Algo que poderia ter levado um tempo para se
formar, para se criar. Entretanto, para mim, só o silêncio era
companhia.
É
assim que a gente repete os dias quando não queremos mais tirar o pé
da cama. Foi assim que eu sobrevivi àquele dia todo. Um todo tão
confuso que eu não sei mais o porquê da alma parada. Da falta de
lavagem no interior mais que profundo. Era do razoável que eu
precisava. Porque estava sendo tudo demais. Tudo repleto, muito
cheio. E os dias tornaram-se carregados, sobrecarregados. Indizíveis,
com um aspecto fosco, semblante recaído. Como se a vida não fosse
assim tão boa – apesar de nem sempre ser – para querer se viver.
Como se os dias fossem mais passageiros que esse estado intocável
que nos encontramos, assim meio do nada.
Às
vezes, precisamos de uma boa sacudida, dessas de fazer os enfeites
cair no chão. Mas outras vezes, precisamos de um silêncio ao todo,
desses que nem ruídos do lado de fora penetram. São dias de um nada
no meio de tudo, que eu chamo de buscar a si próprio. E o verdadeiro
sentido da sua própria existência.
0 Recados
E você, o que achou do post? Me conte aqui nos comentários!
Deixe seu link para eu conhecer seu blog também. ;)