Se o amanhã ainda existir

by - janeiro 01, 2017


Foram inúmeras as vezes em que eu recuei, perdida demais nos vislumbres do que poderia ser um sonho bom, inocente demais para perceber que nada duraria uma eternidade, simplesmente porque ninguém sabe dizer quanto tempo dura uma eternidade. Fui sucumbida pela vontade de não desistir e, mesmo realmente não desistindo, pude sentir o gosto ácido e amargo das inúmeras tentativas que me fizeram retroceder diversas vezes, mas que, ainda assim, me permitiram permanecer na tão falada luta de cada dia. Eu estava apenas tentando. Mas ninguém pareceu perceber. Não que eu dependa de visibilidade, mas, sabe, às vezes faz falta um tapinha leve nas costas seguido de palavras de conforto. Seguido de atenção e afeto.

Mas, quer saber? Eu continuei tentando.

A gente cresce ouvindo dos adultos, os que se dizem saber como é a vida, que aconteça o que acontecer, a gente não pode desistir. “Não pode desistir” são palavras normais, mas que carregam um significado árduo e decisivo em te tirar a paz. Ou em te manter nela, eu não sei bem, porque, apesar de hoje ser uma adulta, não estou no meio desses que sabem como a vida é. Eu não sei como é a vida tanto quanto não sei como eu sou. Porque, sabe, sou uma mistura de desistências com ânsia em jamais desistir que, incrivelmente, acabou aqui, tentando. Sou tentativas. Umas que deram certo, outras que nem tanto, mas que, de alguma forma, por menor que seja, me proporcionaram experiência, apesar dos remendos. Apesar dos desamores, das desilusões e dos absurdos causados pelo talvez.

Mas, quer saber? Ainda estou tentando.

Não sei ao certo o que estou tentando buscar, afinal são tantas coisas. Acho que busco um pouquinho de cada, como um quebra-cabeça, vou pescando as peças, encontrando alguns fundamentos indiscutíveis pelo caminho, outros incompatíveis, mas ainda na esperança de superar as estratégias da vida, do jogo, do caminho. De tudo, talvez, até de mim mesma. É que, diante de tantos corredores intransponíveis, a gente vai virando gente que nem reconhece. A gente ainda tem a essência de quem é, mas, no fundo, não faz ideia de qual será nossa reação ao virar a próxima esquina. Porque a gente não sabe o que vai encontrar por lá e não consegue se imaginar em situações que comprometam a nossa vulnerabilidade.

Mas, juro que estou tentando, cara.

Acontece que, às vezes, ou em muitas delas, a gente sente aquele baita nó arrebentar nossa garganta. E quando esse nó entalado chega ao coração, parece que tudo que tentamos foi em vão. Mais um ano se vai. Mais inúmeras tentativas se perdem por aí, sabe-se lá onde. Eu sei que guardamos, mas acaba que entala, transborda e a gente perde mais uma vez o controle que pensou que tinha. Vai ver ele nunca existiu realmente. Vai ver virar gente grande é isso: viver na tentativa de ser, mas nunca entender completamente o que é estar sendo. E a única coisa que eu sei hoje é que estou apenas tentando ser ou continuar sendo capaz de buscar pelo grande e indiscutível dia de amanhã. Se o amanhã ainda existir.

Afinal, ainda estou tentando.

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