Quando nosso amor virou manchete
Era
uma manhã ensolarada. Eu colocava o lixo para fora no momento exato
em que o caminhão estava vindo. Antes que eu pudesse me virar e
largar o latão, senti suas mãos entrelaçarem minha cintura. Sinto
os olhares dos vizinhos em nós. Sinto o céu sobre nossas cabeças.
Sinto nossos pés se tocarem e nossos corpos se curvarem; nossas
faces se fundirem em um só riso sincero. Sinto que o tempo para no
momento exato em que nossos olhos se encontram pela primeira vez no
dia. Ainda posso ver vislumbres de olhares em nossa direção. Minhas
bochechas queimam e você as aperta com as duas mãos, esquentando o
que sobrou de mim que ainda me dá atenção, já que meu corpo é
inteiramente seu nesse momento.
Percebo,
pelo canto dos olhos, que os vizinhos demoram um pouco mais para
recolherem suas cestas e latões, trocam palavras, se cumprimentam
além do “Bom dia” e continuam a nos lançar olhares curiosos.
Tento me desvencilhar do seu hálito de hortelã do nosso novo creme
dental. Tento me afastar do seu moletom macio e pele quente. Tento
parar seus beijos que agora vão indo em direção ao pescoço. Faço
gestos em vão para te afastar de mim, tudo isso aos risos altos.
Tudo isso, registrando totalmente esse momento em meu terno coração.
Tudo isso, fingindo não querer mostrar ao mundo o quanto de amor
estamos plantando em nosso jardim. E o quanto ainda tem para
florescer.
Agora
as pessoas começam a dispersar, relutantes. Viramos um tipo de
trailer de filme de comédia romântica. Viramos um tipo de clichê
antes do café da manhã e de abrir as correspondências-bomba.
Viramos um pontinho de esperança nos olhos daqueles que ainda
procuram o amor. Percebo que desenham um leve sorriso em suas faces.
Percebo que estão querendo saber mais sobre essa manchete que
acabamos de virar. Sinto suas despedidas, mas sei que ainda espiarão
pelas frestas das janelas, como sempre fazem todas as vezes em que
damos às caras ao dia fora do nosso ninho de dentro. Sinto suas mãos
subirem em minha lateral e suspiro, em um gesto de desistência. Você
não só me atacou como deu ao público um pedacinho de nós. Somos
tanto que nunca nos faltará o que mostrar.
As
portas alheias se fecham. Ninguém nos cumprimentou. Ninguém nos deu
bom dia. Não quiseram atrapalhar a novela. Não quiseram desperdiçar
nosso tempo com a educação corriqueira. Não quiseram nos separar,
nos fazer perder o efeito gritante dentro do peito que, de tão
grande, se expôs em uma apresentação de bom dia. Você me vira de
costas e me abraça. Sinto seu queixo se enterrar no alto da minha
cabeça. Suas mãos acham as minhas, estão quentes, enquanto as
minhas estão geladas. Por fim, você me joga sobre seu ombro como se
eu fosse uma boneca, caímos na gargalhada mais alta da rua. Então
percebo que você ainda não usou nenhum perfume, mas o mais estranho
é que sinto como se não precisasse usar nada. Somos a nossa própria
essência. Somos o nosso perfume de toda manhã, tarde e noite.
Acontece
que nosso amor transbordou e há respingos por todos os lados.
2 Recados
Que texto lindo, adorei *.*
ResponderExcluirBeijinhos
O blog da Mó | Instagram
Ah, obrigada! <3
ResponderExcluirVolte sempre!
Beijos,
Sâm.
E você, o que achou do post? Me conte aqui nos comentários!
Deixe seu link para eu conhecer seu blog também. ;)