Isso não é um texto de amor
Nunca fui capaz de pensar que eu poderia algum dia esquecer o efeito
brilhante dos seus olhos, mas isso não é um texto de amor. Não vou
lembrar a primeira vez em que te vi sorrir, como se o dia de amanhã
fosse incerto demais para desperdiçar o hoje com lágrimas salgadas.
Não vou lembrar a primeira vez em que apertamos as mãos em um
simples cumprimento e o quanto de energia eu senti aflorar em mim no
mesmo instante. Não, cara, não vai ser dessa vez, sabe? É que isso
aqui não é uma carta de amor. Nunca mais será.
Demorou, confesso. Duraram inúmeras cartas inacabadas, inúmeros
filmes pela metade e diversas músicas no repeat. Duraram muitas
madrugadas aflitas e vários potes de brigadeiro. Fiz da sua ida
diversas tentativas de acertar as pilhas de roupas no canto do
quarto. Fiz da sua ida o caos perfeito em que eu me afundei durante
um bom tempo. Mas hoje, não. Não vou dizer o quanto senti falta das
suas bobagens ditas nos intervalos das nossas variadas séries e nem
contar que ainda não tive coragem para assistir até ao fim a última
que acompanhávamos.
É que o mocinho morreu. O mocinho se foi. Você não voltou. O
mocinho também não.
Isso não é pra ser um texto de amor, porque o amor vira texto,
aquilo que tínhamos não. Aquilo vira incerteza. Transforma a alma
em uma gaveta sem fundo. Não é a coisa mais linda em uma história
de amor, certo? Mas, confesso, que se fosse amor teria doído mais.
Eu gostei do fato de nunca ter sido tudo isso, mas odiei eu ter
demorado tanto a perceber. Acho que, no fundo, você sempre soube.
Talvez sempre esteve escrito na sua cara, mas eu não sabia ler
almas, olhares e sintomas. Sempre achei que fosse saber quando era,
olha o quanto errei, porque nunca foi.
E embora eu ainda sinta um amargo caos instalado no fundo do peito,
estou virando a página. Essa mesma que demorei tanto a encontrar os
erros. Porque não se pode terminar de ler uma página sem que tenha
a compreendido totalmente, a história se perde depois e perdida eu
já estava. Foi uma leitura árdua, eu quis encontrar o melhor jeito
e pratiquei vários de outros erros para não errar mais. E errei
mais uma vez. Errei tantas e tantas vezes que seria difícil
descrever. Mas sabe quando você sente que está acertando
finalmente?
Vai ver sua ida foi uma mensagem da vida. Vai ver sua despedida
súbita foi para eu não me despedir de mim mesma.
Isso não é era para ser um texto de amor, porque nunca foi amor.
Nós fomos tudo, mas no fim ficamos com o nada, porque foi o que
restou. E quando nada resta, não é amor. É estranho. É um ninho.
Um nó. Uma incógnita, mas nunca amor. O amor tem suas loucuras e
estranhezas, mas deixa uma herança de lembranças boas e gostosas
para a nossa vida. Você deixou a dureza de necessitar seguir em
frente sem ter a menor ideia de como fazer. Mas, quer saber? Eu fui
lá e fiz.
Errei com nós dois, mas acertei as contas comigo e agora estou de boa, sabe? Disseram que eu não iria superar. Só que, sabe, eu nunca fui de desistir
até acertar. Afinal, foi quando te perdi que acabei me encontrando.
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