Sobre ainda acreditar por mais que seja inacreditável
Passou
tanto tempo desde a última decepção. Foi estranho perceber que
acabou aquilo que eu jurava que jamais acabaria. E após noites
eternas, frias e sem sentido, pude acordar e voltar a me permitir
sorrir com a alma, não apenas com a bochecha, com a inibição. Só
que há feridas que deixam marcas. Dessas que a gente não consegue
apagar, sabe? E quando digo marcas, não me refiro aos cortes
aparentes, mas aqueles profundos que só a alma reconhece. Que só a
gente entende, só a gente sabe como dói, mesmo que seja um
pouquinho, quando tocamos no assunto. E em meio a tudo, o medo
mastiga nossa ânsia de seguir em frente. Afinal, como acreditar de
novo?
Não
há respostas, porque não há regras.
Os
dias vão passando e a gente se sente preso àquilo que já acabou,
mas que não passou por definitivo, pois ainda nos causam
consequências, como o ato de não acreditar novamente. A gente vai
perdendo a fé sempre que um novo impacto invade o nosso mundo de
dentro. Para os de fora, há remédios, para os de dentro há apenas
remendos. E de remendo em remendo, a gente vai sentindo a flacidez da
alma. Nos tornamos apanhadores de cortes profundos, cicatrizantes de
dores internas e reformula(dores), pois estamos sempre aqui
peneirando experiências para que não nos tornemos ambulantes da
vida, que pesa tanto quanto uma lágrima e afunda o nosso oceano de
dentro.
Há
um oceano dentro de nós e nunca sabemos como não transbordar.
Transbordamos
tanto, mas nunca nos preocupamos se amanhã seremos capazes de
levantar sem precisar de curativos. Porque somos nosso próprio
curativo, desse que a gente leva tempo para cicatrizar, mas
cicatriza. E nesse meio tempo vai perdendo a fé aos pouquinhos, até
chegar o dia em que o medo de nunca mais voltar a acreditar chega. É
porque a gente tenta, sabe? Mas parece que uma nuvem enorme e escura
paira sobre nós e não nos dá alternativa de fuga. E talvez seja
esse nosso problema: querer fugir. Estar sempre de malas prontas para
seguir, mas nunca com o intuito de enfrentar. O que, de fato, é
preciso enfrentar?
Também
não sabemos e, mesmo não acreditando como antes, continuamos
enfrentando.
Desejo
que você, mesmo com coração em rachaduras internas e alma
perfurada, ainda mantenha o passo firme. Mesmo que suas pernas
fraquejem, que seus sonhos estejam, nesse momento, como neblina e que
sua vida pareça um vagão abandonado e sem sentido. Desejo que você
possa desatolar do beco sem saída que acha que está. Sempre há
saída, por mais que estejamos no mais difícil dos caminhos, ainda
podemos manter nossas escolhas. E são nossas escolhas que fazem
nossa vida, cada um de nossos dias e nossa possível futura
caminhada. E é por isso que, mesmo desacreditando, precisamos
acreditar.
Não
que seja fácil voltar a acreditar depois de todas as pancadas que a
vida dá. E embora os ecos que a vida tem te devolvido não sejam os
mesmos que você tentou emitir, desejo que você perceba que o som da
vitória nem sempre é feito de sorrisos, mas também por aqueles
longos e agoniantes suspiros de tentativas. Que seus suspiros nesse
momento sejam, mesmo que não formulados por um sorriso, orgulhosos
por não estarem sendo de desistência, mas de esperança, de luta e
garra.
Há
um oceano dentro de nós e nunca sabemos como não transbordar. No
entanto, sabemos que precisamos nos manter firmes nas variadas
tentativas de alcançar sonhos e desejos, afinal, a vida é
inacreditável e olhe só para nós, ainda estamos aqui, acreditando.
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