O que sou eu sem você

by - novembro 15, 2016



Eu estava pensando aqui em dar um tempo na saudade de você. É que já faz tempo que estou nessa viagem de trem e nunca chego a lugar algum. Às vezes cansa ver o dia nublado sempre, sabe? Às vezes cansa correr da chuva todos os dias, e quando a gente para, finalmente percebe como é bom um banho gelado nos pingos que caem do céu e molham a terra. Como é bom o cheiro que a chuva carrega e que é uma delícia ver filmes e comer pipoca com o tempo chuvoso.
Se eu não admirasse tanto o brilho dos seus olhos, já tinha corrido de encontro com alguns sonhos que já até colecionam teias de aranha. Cara, se eu não admirasse tanto assim o efeito que você tem sobre mim, já teria acordado em outro lugar, olhando algum tipo de céu cor-de-rosa com texturas amareladas e alaranjadas. E talvez isso nem tenha tanto assim a ver com você. Talvez seja apenas eu, sabe? Eu que ando fugindo de enxergar que existe vida sem você.
Quero dizer que não sinto remorsos por, quem sabe, estar começando a enxergar agora. Sinto como se sempre tivesse andado com um tapa olhos gigante. Cobria minha visão, sabe? E não lhe culpo por isso. Eu via apenas o que era de meu interesse. Será que agora o interesse está mudando? Eu não sei dizer quando foi que acordei nesse novo universo, onde há você e há meu eu também. E, apesar de sempre ter sido assim, eu conseguia ultrapassar as barreiras que nos separavam para nos juntar. Era um belo arranjo, afinal. Mas, sabe, a gente tem que aprender a caminhar sem apedrejar nosso próprio caminho.
Se há ciscos em meus olhos agora, sinto dizer, mas é que não é tão fácil acordar para a vida após já ter vivido tanto. Não é tão fácil acordar dentro de uma nova mente, um novo corpo e novas pernas que querem te levar por outro caminho. Já conheço tanto esse trajeto aqui que tenho medo de me perder em algum outro. Mas, quer saber? Às vezes a gente só precisa ir. Às vezes a gente tenta fingir que tem outra escolha, mas, no fundo, existem momentos que nos mostram que não há como fugir. E esse momento está acontecendo agora.
Eu sei. Parece louco sacudir uma mochila nas costas sem lhe dar as mãos. Eu sei, cara. Parece que estou fazendo a maior burrada da vida em alcançar um caminho que não seja o mesmo do seu. Sei também que vai ser mais difícil ainda quando eu descobrir que não tenho o calor do seu corpo em uma noite qualquer, ou em todas elas. Que vou querer voltar correndo quando o choro atingir fortemente e eu não encontrar seus braços para me consolar. Sei que vou me destruir para poder me construir novamente. E, embora eu esteja temendo muito que minha falta se perca na sua vida, estou por aqui, em reforma de mim mesma para descobrir quem realmente sou sem você. E quem eu pretendo ainda ser. Espero mesmo que ainda dê tempo. Mas o que mais espero mesmo é que eu não descubra que sou apenas um vazio sem você. Porque ninguém é feito de metades, ninguém é como um boneco inflável que precisa ser enchido. E se eu me encontrar assim, terei a certeza de que estou esvaziando, de que estou sumindo para ver você encher.
Sâmela Faria

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