Dez vezes mais você
Olhou no
espelho e não se viu. O reflexo do espelho apenas refletiu em sua face suas
dores e contrapesos. Mais que isso, suas crises existenciais e manias de
desistir de tudo e todos, inclusive de si mesma. Percebeu uma voz rouca, fria e
perdida sair daquela imagem fosca e sem graça que via. Afinal, quem era aquela
que não sorria, que não falava, não amava, não vivia?
Quem é essa
aí que não dorme a noite por causa de um carinha qualquer? Que não faz mais
nada da vida a não ser se trancar em mundo escuro e cheio de lembranças
espelhadas pelas paredes? Quem é essa que se desespera, que grita e chora sem
parar, sem se deixar respirar nem que seja um pouquinho? Quem é você que
desiste de viver sem sequer estar vivendo?
Olhou de
novo no espelho e começou a contar suas marcas e cicatrizes ao redor do corpo,
mas não achou nada. Estava tudo em seu interno, e dali nada transparecia sem
ser aquela imagem manchada de um cabelo embaraçado e um olhar triste. Era um
fantasma que se instalava ali, sem cor, sem voz, sem pudor. Mãos suadas como
quem espera por uma mudança radical em menos de dois minutos e que espera sair
dali um outro alguém, novo e feliz.
Não saiu.
Não saiu porque ela não quis, porque ela não tentou. Não saiu porque ela só
olhou para a ponta fria do nariz, para os cílios e sobrancelhas esparramados, e
o olhar medonho como que se quisesse pedir socorro. Entretanto, ela pedia
socorro a si mesma, mas não ouvia. Gritava por libertação daquela alma fincada
dentro de um corpo que já não dava mais um passo por ele. Por ninguém. Ela quis
sair dali e sacudir a poeira, mas não teve forças.
Olhe-se no
espelho e veja mais vezes você, sinta mais vezes você, observe o que vê, e o
que não vê. Faltou um sorriso? Busque sorrir mais. Faltou uma feição melhor?
Aperfeiçoe-se. Faça por você aquilo que ninguém fez e que não vai fazer. Entre
todas as coisas que a gente aprende na vida, uma delas é andar sozinho. Dar o
primeiro passo, o segundo, o terceiro, todos eles sem precisar escorar em
alguém. Desenterre você desse corpo mole, voz estranha e vida parada. Busque
dentro de você o que você é e seja. Dê atitude ao pedido de socorro que vem aí
de dentro.
Nós ficamos
tão amargurados com a ferida da alma, com o desânimo de domingo, com o medo de
tentar de novo e nada dar certo que, pensando estar na proteção, nos tornamos
cegas. E não vemos que a mente padece, que o coração está ofegante gritando e
chamando tanto por nós. Ficamos anestesiadas. E nos tornamos fantasmas da vida,
sabe? Desse que rodopia por aí sem destino, que não se enxerga, não se entende
e não se ajuda. Mas está sempre em busca de uma nova saída. Olhe mais para
você, presta atenção em você, porque, moça, muitas vezes a saída pode estar
dentro de nós.
Sâmela Faria
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2 Recados
Que lindo esse texto!
ResponderExcluirAchei tão otimista.
Precisava ler algo assim.
"Nós ficamos tão amargurados com a ferida da alma, com o desânimo de domingo, com o medo de tentar de novo e nada dar certo que, pensando estar na proteção, nos tornamos cegas. E não vemos que a mente padece, que o coração está ofegante gritando e chamando tanto por nós. Ficamos anestesiadas. E nos tornamos fantasmas da vida, sabe?"
Um beijo.
http://sentimentalismodesmedido.blogspot.com.br/
Ah, que bom que gostou, Mart!
ExcluirEstava quase o retirando da plataforma, pois o achei com pegada "autoajuda" e não gosto muito. Mas muitos gostaram também. Vou deixar!
Obrigada pela visita. Volte sempre! Beijos
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