Quando foi que a gente virou romance?
Ainda
sinto um nó na garganta desde que a gente virou filme. Sabe aquele filme que
te dá vontade de assistir mais de uma vez? Com um pote de sorvete de flocos nas
mãos? Sem se importar com as horas e com os dias? Não me refiro a uma mísera
depressão amorosa. Não me refiro a uma mísera dor que nunca acaba. Eu me refiro
a um filme que passou rápido demais, um filme maravilhoso, um filme que não
precisou ganhar o Oscar para ganhar meu coração. Afinal, quando foi que a gente
virou romance?
Ainda
sinto uma vontade absurda de contracenar novamente, nem que seja por um dia,
uma noite, uma hora. Apesar de eu nunca ter gostado de pessoas pela metade, eu
aceitaria um pedacinho de você nesse momento. E talvez seja o suficiente para
que aquela maldita porta não seja cúmplice da sua amargurada ida. Ida sem vinda
não é bem-vinda, sabe? Já te contei antes que em meu coração não há espaço para
despedidas. Então, você foi sem um adeus. Sem um mísero “até um dia”. Porque
não haverá esse dia, nós dois sabemos bem.
Olha
que coisa estranha: pronunciar “nós dois” sem que seja real. Não é real. Talvez
seja apenas uma vontade absurda do coração de projetar você na minha vida novamente.
Não porque eu esteja assistindo a filmes dramáticos e melancólicos com um pote
enorme de pipoca caramelada nas mãos todas as noites. Não por eu já ter quebrado
uns pratos por estar distraída o bastante para as tarefas da casa. Não por eu
estar forçando um riso amarelo na frente das pessoas que pronunciam seu nome
como se isso não fizesse amolecer meu pobre coração. Mas porque você valeu.
Valeu cada segundinho do meu tempo. Valeu cada piscadela acelerada que troquei
contigo ao te ver chegar por aquela porta.
Você
valeu muito, droga. E, talvez por ter valido tanto, esteja cutucando com
ardência máxima a minha alma. Talvez, por isso você esteja fazendo parte dos
meus infinitos dias de vasculhar e revirar nossos momentos pela casa. Casa,
palavra tão pequena, mas que contemplou coisas tão grandes. Talvez, só talvez,
por você ter sido essa coisa grande. Mas, ainda sendo grande, coube em meu
coração de uma forma que jamais sairá. Eu só espero que a gente não se perca da
gente, mesmo que tudo que envolve a vida
da gente tenha se perdido. Afinal, um filme não é o mesmo sem o mais importante
protagonista. Ora, obrigada por ter me feito estrela de cinema e por ter atuado
em um dos mais belos filmes que meus olhos já viram e que meu coração já contemplou.
Você foi o filme que mais me marcou. O predileto, talvez, mas, só talvez.
Sâmela Faria
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