E se a saudade apertar
E
se a saudade apertar, eu prometo que faço bolhas e estouro todas elas, uma por
uma. Ou quem sabe eu consiga piscar os olhos e, como num passe de mágica, você
surgirá bem na minha frente com meia dúzia de palavras não ensaiadas para
simplesmente dizer que sentiu minha falta também. Mas eu não vou negar que
tenho medo da sua ausência; que tenho medo do esquecimento, das fumaças que
acinzentam tudo e, depois que passam, não vemos mais nada. Às vezes na vida nós
temos que limpar bem os olhos para enxergarmos os mínimos detalhes de tudo.
Talvez devêssemos ir mais além daquilo que desejamos ver. Como obra imperfeita
do acaso, estou aqui, de pijama nada sex, querendo apenas rir de chorar de uma
comédia romântica que seja semelhante aos nossos des(encontros). E no final,
você sabe, eu fico só com a parte das lágrimas. Essas mesmas que se perdem do
riso e, como se não bastassem, ainda dão um golpe duplo de ódio e lembranças
boas no pobre do coração.
Ah,
mas se a saudade apertar, meu bem, eu desenho novamente nas nuvens, compro o
seu cheiro em um comércio qualquer e mastigo um milhão de vezes aquele mesmo
sabor de chiclete. Ainda posso usar sua camiseta, apesar de achar que mereço
renovação de roupas suas. É que já faz tempo que os buracos vão abrindo, o
tempo vem chegando nada de fininho e leva o que é novo para aquela etapa chata
de antiguidade. Tá tudo virando museu, tá tudo ficando na memória, nas
recordações de uma mente brilhante onde nenhuma teia de aranha adentra. Mentes
fortes. Dessas que não param um segundo de pensar em um só sorriso, em uma só
boca, um só abraço.
E
olha só que curioso: com tanta gente por aí eu fui escolher ser gente no meio
da gente. A gente nem dava pra ser “a gente”. Sabe aquele nós que no fundo é
uma porção gigantesca de nó? Somos nós. Desses que ninguém nunca acha a outra
ponta, sempre dá um nó danado que nem nós mesmos conseguimos desatar. Mas,
talvez, nós não sejamos só um nó, ou dois e três. Talvez nós sejamos vários
deles querendo apenas encontrar a saída certa. Estou confusa, mas nós não somos
menos que isso, não é mesmo? Dizem por aí que quem não vira a página é porque gostou
demais do episódio. E olha que você nunca foi um bom leitor. Digo isso e encaro
seus olhos fantasmas no espelho, aliás, há fantasias suas demais da conta nesse
quarto.
De
hoje em diante, vou combinar com você, eu finjo que tá tudo bem e você não bate
mais na porta. Você pega aquela sua meia amarelada de dentro do tênis e a
calça, aponte o pé para o caminho que melhor lhe fizer sentir. Eu sempre soube
que não sou um bom caminho. Por vezes, encontro uns buracos de sufocar qualquer
um. Não gosto que me olhem torto, portanto, não faço esforço pra ser o que
desejam outros desejosos. Vamos combinar que se a saudade bater forte demais, a
gente suspende esse suspense e corremos um para o braço do outro com toda
pressa do mundo? É que, neste momento, estaremos cientes de que já perdemos
tempo demais.
(Sâmela Faria)
2 Recados
Que textão!!! "Vamos combinar que se a saudade bater forte demais, a gente suspende esse suspense e corremos um para o braço do outro com toda pressa do mundo? É que, neste momento, estaremos cientes de que já perdemos tempo demais."
ResponderExcluirLindo demais, Sâmela, xoxo
radioactivebookss.blogspot.com.br
Hahaha. Grandinho, eu não sei parar...
ExcluirObrigada, linda! <3
Volte sempre.
Beijos,
Sâm.
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