Deixa-me tentar

by - novembro 07, 2015



Desde um tempo atrás que venho pensando em te pedir abrigo. Não quero café fresco pela manhã, não quero bolo de laranja e nem cereais com leite. Aliás, eu até quero, mas não é disso que mais preciso. Não quero que seja rico, que tenhamos uma casa enorme e muitos bens materiais. Porque quero aconchego, quero janelas arreganhadas onde eu possa sentar uma tarde inteira e terminar todos os meus livros empoeirados da estante. E a única riqueza que quero que tenhamos é esse nosso amor, com muitos risos e companheirismo. A nossa única riqueza será a nossa vida, nossos sonhos, nossos planos saindo do papel do pensamento e entrando em cena, finalmente.
Deixa-me tentar ser pra você aquilo que venho querendo ser? Deixa-me cuidar, dar carinho, encher de amor e paz seu coração que já me adotou faz tempo. Deixa-me tentar te fazer sentir a vibração contagiante que sinto dentro de mim quando penso em nossas noites chuvosas com gostinho de pizza de madrugada e filme picante.  Deixa eu te fazer cócegas na alma de tanto rir. Porque gosto desse seu sorriso, do jeitinho que surgir, de canto, meio aberto, com dentes à mostra, com o rosto enrugado e olhos fechadinhos. De qualquer forma. É que te ver sorrir é uma sensação perfeita de amor, felicidade, alívio e agradecimento.
É o que venho fazendo desde que nos conhecemos: agradecendo. Tenho andado tão agradecida que se eu tentar definir, estraga. Eu realmente agradeço por ter esbarrado em você num desses dias bobos em que não se espera nada de bom. E o mais engraçado é que parece pouco. Agradecer parece ser muito pouco, quero retribuir. Retribuir a você toda coisa gostosa que me faz sentir, esse tipo de coisa que não sabemos dar nome, porque sabemos que nada pode alcançar seu real sentido. Aliás, você é uma das poucas coisas que me faz perder o sentido, assim, do nada. E quando volto pra Terra, penso ter sido abduzida por um anjo e ter chegado até as estrelas. Pode parecer bobo ou historinha pra criança dormir, pois que seja, só quero que entenda que é coisa de outro mundo esse aconchego todo que encontro em você.
E, talvez, eu tenha feito surgir algum efeito bom em você também. Ninguém me aturaria por tanto tempo assim. O que quero dizer é que a porta sempre esteve aberta e, mesmo eu torcendo pra que não quisesse ir embora, você sempre esteve livre pra ir. E sabe qual a melhor parte nessa história inteirinha? Você não foi. Essa é a parte em que eu sorrio abobada olhando para trás e vejo o quanto você teve oportunidades para ir e, mesmo assim, decidiu ficar. Bom, somos duas pessoas determinadas, quanto a isso não podemos negar. Permanecemos um ao lado do outro quando tivemos total direito de ir embora, chutar o balde e largar tudo pra trás. Somos vencedores do tempo ruim, das tempestades rudes e dos dias de desistência.
Preciso retribuir. Deixa-me tentar? Eu te juro nada. Não te prometo dias melhores e muito menos gargalhadas. Porque temos que viver com os pés no chão, os dias ainda nos tentarão. Mas se quisermos mesmo que nossas cenas planejadas entrem para o nosso filme, devemos vencer mais uma vez, e mais uma vez e sempre. Porque seremos sempre guerreiros dos dias e, sobrevive, o amor que for forte o suficiente para lidar com furacões e lágrimas inacabáveis. Porque passa, você sabe. E depois que passa, vem a melhor parte, com arrepios pelo corpo, olhares fulminantes e desejo de estar um no braço do outro outra vez: o momento das pazes. E a gente libera o amor que pausou no momento em que a tempestade passava. E ele vem tão mais forte que um sorriso não basta, sempre vem acompanhado com uma lágrima. Lágrima de felicidade eterna. Por que não tentamos juntos?
Sâmela Faria

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