Sobre seu coração ferido
O
corte foi fundo, mulher? Hum. Deve ter doído muito, eu sei. Mas não sangrou,
né? Então é passageiro. Aliás, sangramentos também são, não te contaram? Devo
alertá-la que vai doer mais um pouco, mais um pouco e depois mais um pouquinho,
até, um certo dia, desgastá-la totalmente. E aí para de doer, porque, já disse,
você sabe, dor nenhuma é eterna. Alegrias também não são. Tudo, cedo ou tarde,
uma hora ou outra, acaba. Mesmo que você não esteja esperando, mesmo que você
não esteja preparada. Ninguém nunca está preparado para o fim. Mas, todo mundo
está sujeito a dar de cara com ele, assim, de repente, em alguma das próximas
esquinas.
E
aí, há aquele sacolejo. Você se detona, se odeia, se tranca em algum escuro
qualquer sem alarmar ninguém e pretende, inconscientemente, ali morar o resto
da vida. E então, os dias parecem ter parado ali, no tempo, congelado, sem
mexer em nenhum segundo. E você continua vivendo, mas com a impressão de que
nada passa e que as horas não mais se vão. E, sabe, você tem razão, as horas
desaceleram sempre que nós tomamos conta dela. E agora eu te pergunto, acha
mesmo que está sozinha nessa? NÃO! Estamos todos no mesmo barco, seguindo para
algum lado que nem sabemos onde vai dar. Não sabemos se vai dar tudo certo, ou
se, simplesmente, vamos naufragar.
O
que quero dizer?
Que
todo mundo, assim como você, já se sentiu assim pelo menos uma vez na vida. É
claro que eu já quis sumir do mapa e até mesmo desaparecer com a chuva. Já quis
voar com o vento e ser livre como o pássaro que ainda não foi injustiçado com
uma gaiola. Eu já quis me perder nas linhas mal escritas do tempo, já quis
retornar ao passado e escrever tudo de novo. Já quis flutuar como pluma e virar
brisa por aí. Já quis perder o controle ao pé de um precipício profundo: aquele
que a gente ainda respira, mas para respirar não faz nada.
O
que quero te dizer, mulher, é que todo mundo pensa em desistir de tudo após ter
o coração massacrado, mas, o pior que podemos fazer é continuar no chão após
uma queda. O pior que podemos fazer é desistir de outros caminhos da vida só
porque um te deixou com as bagagens na mão, sem rumo. O pior que podemos fazer
é nos limitar a seguir em frente quando a tempestade insistir em te balancear.
Ora, você sabe, tempestades passam também. Hoje você se encharca de lágrimas e
move a tempestade externa para dentro de você, mas amanhã, meu bem, a
tempestade seca, você se liberta dessa
ventania toda e, juro, volta a sorrir.
Sâmela Faria
Insta: @samela_faria
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