Saudades da ingenuidade

by - fevereiro 08, 2015



Acordei, de repente, e eu já era grande. Entretanto, no espelho eu ainda era a mesma. Mesma cara amarrotada de sempre, mesmo cabelo solto caindo sobre o ombro, mesmo sorriso sem graça, mesmas pintas em redor do rosto, mas aquele olhar havia mudado. E mesmo que eu procure saber como e o porquê, não encontro. Talvez porque não seja para encontrar. A questão é que, hoje, eu vejo coisas que não via antes. Hoje enxergo algo além daqueles pequenos olhos que rodavam pelo mundo em procura de sorrisos e brincadeiras simples. 

Mas eu sinto falta. Sinto falta do olhar que mal sabia diferenciar uma mentira. Sinto falta das visões que viam e não sabiam que o que acontece na televisão pode, tranquilamente, acontecer aqui fora. Daquele mundo onde não se enxergava uma maldade, uma malícia. Os olhos passaram para uma fase madura, porém, muitas das vezes pude dizer que ruins. 

Saudades da ingenuidade que cobria a alma fria, a quente e a morna. A ingenuidade que não sabia o que dizer em um ataque de elogios e um olhar reservado era um dos gestos infalíveis. Sinto falta daquele ponto de luz que só aquele mero olhar enxergava. Hoje sinto muito mais, ouço muito mais, vejo além e penso muito mais também. No entanto, confesso que, diante de toda dor que consigo sentir tocar e aprofundar no coração, o pesadelo se tornou mais cansativo de superar. 

Eu ainda tenho um pouco dela, a ingenuidade, nunca se perde por completa e isso é bom. Vamos combinar que saber que no mundo existe o lado bom e o lado ruim é amadurecer, mas reconhecer na pele os dois lados é, no mínimo, doloroso. Reconheço a dor dos outros, sinto muito por todo mundo. Sinto pena dos que não tiveram boas escolhas pra vida, mas gosto que a justiça seja feita, é claro. O ligar da televisão e se assustar com o “filme” que passava sempre no repórter é, hoje, olhar para o lado e reconhecer que aquele mesmo filme passa lá e passa aqui, em todo lugar. 
- Sâmela Faria

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