Quarto branco da dor
O sol atravessou a janela do
quarto branco onde eu estava me fazendo abrir os olhos e constatar mais uma vez
que eu, ainda, estava viva. De longe, ainda sonolenta, avistei as horas que já
passavam das seis horas da manhã. Relutei em levantar, fazia muito tempo em que
eu não me sentia, literalmente, cansada. Rolei de um lado para o outro sem
querer parar em algum canto daquela cama fria e macia. Meu travesseiro não
estava por ali mais, eu sequer conseguia olhar ao redor do quarto para ter
certeza de que tudo continuava ali, intacto. Mas eu sorria como se o dia fosse
novo, e na verdade era. Eu sorria, porque eu ainda vivia. Encarar a realidade, às vezes, dói
tanto que mais cedo ou mais tarde, você se entrega às lágrimas que sempre
insistem em descer. Mas eu já não mais chorava. Secara em mim o que eu podia
chamar de tempestade interior, depois de tantos estragos, a dor se amenizou. Calou-se
em meu peito e eu não sabia mais como a definir.
Pode ser verdade que eu precise ter força e levantar daqui para encarar os poucos dias que me restam – nas palavras do médico –, no entanto, quem sabe disso, sou eu. E ninguém parece querer entender minhas razões, meus princípios e minhas falhas. Acontece que todo mundo falha, e mesmo que as minhas não tenham sido totalmente culpa minha, eu ainda as aceito. Estar aqui, deitada, é até indolor. Levantar para encarar mais um dia e ver a “cara” das pessoas de dó, de pena, de solidariedade que é doloroso. Mas ninguém parece notar que um “você não pode fazer isso” dói muito mais que ouvir dizer que estou a um passo de sucumbir-me da Terra. Mas eu sei que fazem para meu bem, entretanto ninguém procura saber o que seria bom para que eu possa me sentir bem. Ninguém perguntou nada. Ninguém quis saber se eu quero passar meus últimos dias em cima dessa cama e nesse quarto branco da dor. Ele me causa calafrios. Ele me causa ânsia de vômitos e vontades de dormir eternamente mais rápido.
Pode ser verdade que eu precise ter força e levantar daqui para encarar os poucos dias que me restam – nas palavras do médico –, no entanto, quem sabe disso, sou eu. E ninguém parece querer entender minhas razões, meus princípios e minhas falhas. Acontece que todo mundo falha, e mesmo que as minhas não tenham sido totalmente culpa minha, eu ainda as aceito. Estar aqui, deitada, é até indolor. Levantar para encarar mais um dia e ver a “cara” das pessoas de dó, de pena, de solidariedade que é doloroso. Mas ninguém parece notar que um “você não pode fazer isso” dói muito mais que ouvir dizer que estou a um passo de sucumbir-me da Terra. Mas eu sei que fazem para meu bem, entretanto ninguém procura saber o que seria bom para que eu possa me sentir bem. Ninguém perguntou nada. Ninguém quis saber se eu quero passar meus últimos dias em cima dessa cama e nesse quarto branco da dor. Ele me causa calafrios. Ele me causa ânsia de vômitos e vontades de dormir eternamente mais rápido.
Pelo bem da humanidade que me
cerca, eu devo esperar. Devo querer morrer devagar, aos poucos e vendo todos se
despedirem de mim sem demonstrar. Pensam que eu não sei, mas eu sinto. Suas
mãos frias e cautelosas se expandem pelo meu rosto em um ato simples de
carinho, e de despedida. Mas ninguém me diz adeus. Ninguém me diz que vai
sentir minha falta e que não queria que a vida fosse assim. Ninguém olha em meus
olhos e diz toda verdade que vem carregando em cada olhar de piedade e carinho.
Todos cuidam da minha existência que já tem as malas prontas para partir para
outro lugar. Todos cuidam do que veem aqui em cima dessa cama, mas ninguém vem
dizer como será o meu fim. Acho que as pessoas esquecem que eu sei que tenho
passos leves pelo caminho à frente. E, o que eu menos queria agora, era
continuar nesse quarto esperando a morte bater na porta e todo mundo
chorar o choro desesperado que estão guardando a sete chaves agora. Eu queria
viver os dias que tenho contado no calendário, mas sem interrupções do que pode
ou não me fazer bem. Se olharem em minha volta a procura do que tenho, verão
que tenho nada além do branco, do vazio, da dor. Quero sentir dor do lado oposto
desse mundo fraco onde caí, minha força vem daquilo que me faz bem e eu preciso
confessar, desse jeito, estou cada vez mais mal.
5 Recados
Ei, que texto incrível. E esse texto se encaixa, não somente a momentos de despedidas não confessadas de quem já sabe que vamos partir, mas também a despedidas não confessadas de quem sabe que ainda vamos continuar aqui... O mundo torna-se tão insano quando não se tem amor, não é?
ResponderExcluirParabéns. Amei o texto ♥
www.eduardalins.com
É verdade! Obrigada Eduarda, fico feliz que tenha gostado.
ResponderExcluirVolte sempre!
Beijos
Que texto forte! D:
ResponderExcluirAchei linda a forma como você expressou esses momentos de partida - seja por doença ou não - e me deixou pensativa quanto a despedir sem dizer adeus.
Blog Coisas de Vih | Fanpage
Ah que linda! Obrigada Virgínia. Fico feliz que eu tenha conseguido me expressar tão bem.
ExcluirVolte sempre!
Beijos
Passando para avisar que você foi tagueada (escreve assim?) por mim >< http://arabell-a.blogspot.com.br/2015/01/tag-liebister-award.html
ResponderExcluirE você, o que achou do post? Me conte aqui nos comentários!
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