Os seres humanos são intrigantes
Ela reclamava da vida,
pensando que mais ninguém lhe ouvia; acho que esqueceu que trabalhava em uma cafeteria
e que havia uma fila imensa esperando para fazer o pedido. E eu estava lá,
calmo, afinal, eu havia passado a noite inteira acordado, assombrado por
problemas que a vida se encarrega de nos entregar. Eu a observava sem que ela
percebesse, e todo mundo parecia dar ouvidos às suas lamentações com a amiga que
também era funcionária de lá.
Finalmente chegou minha
vez, a garota de olhos brilhantes, me olhou com um meio sorriso que eu sabia
que não era tão feliz assim e perguntou:
– O de sempre senhor?
Intriguei-me:
– E o que sempre peço?
– Um latte macchiato e
torrada. Pode ser?
Uau. Ela se lembrava de
mim. Fiz que sim com a cabeça e a moça após alguns minutos me entregou,
juntamente com um cartão onde havia o valor do que pedi e me apontou para a
direita, onde eu pagaria.
– Tenha um bom café
senhor!
Não consegui dizer
muito.
– Obrigado!
Sentei em uma mesa de
frente para a recepção e assim, pude lhe ver remexer para lá e para cá com um
riso no rosto como se tudo em sua vida estivesse bem. Como as pessoas conseguem
disfarçar tão bem uma dor? Como elas conseguem esconder uma lágrima de forma
que ninguém perceba? Eu ouvi aquela moça reclamar e lamentar a metade da minha
manhã e não esperava vê-la sorrir tão cedo. Mas ela sorriu. Ela se escondeu
atrás de um sorriso amarelo, mas que não deixou que ninguém notasse sua alma
ferida. Ela varreu seus problemas para debaixo do tapete, porque era isso que
devia fazer para sobreviver mais um dia. Para se aguentar mais um dia
escaldante de trabalho pesado, onde o que não para são suas mãos e corpo, mas o
que dói mesmo é seu coração.
Os seres humanos são
intrigantes, fazem com que o mundo vire de cabeça para baixo e depois o colocam
no bolso esquerdo para sobreviver aos dias árduos. Torcem suas incertezas e
depois as deixam passear pela alma em pedaços. Infetam-se de dores e depois
sorriem como se nada estivesse acontecendo. E, para piorar, saem por aí com o
orgulho aflorando e falam da vida dos outros para os outros, sem notar que
estão no mesmo fundo do poço.
Quando estava de saída,
escrevi algo em um pedaço de guardanapo e coloquei no bolso da moça, sorri, ela
retribuiu parecendo confusa e então, sai. Eu sabia que a faria sorrir, ou
chorar. E me senti melhor. Eu estava sendo intrigante também.
“Moça, há um filme onde
você é a única autora. O resto são os personagens que podem contracenar
conforme a música ou não. Mas quem decide quem entra na cena, é você. Esse
filme é sua vida, faça dela o que seu coração mandar, mas não deixe de tentar
melhorar, nunca.”
2 Recados
Adorei, Sâmela!
ResponderExcluirO ser humano é mesmo assim... Esconde sentimentos para que assim consiga "viver".
Beijos,
♡
http://sentimentalismodesmedido.blogspot.com.br/
Igual que não se pode "viver" sem se esconder, não é mesmo?!
ExcluirHaha. Muito origada Mart!!
Volte sempre! Beijos
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