Quando o impressionante é extrapolado
Bateu à porta durante, quase, longos cinco minutos. Fez-me franzir a testa, como em todas as vezes que encontro seus tênis
esparramados no meio do quarto ou embaixo da cama. E, também, quando vou dar-lhe aquele
baita beijo no rosto e saio com os lábios escorregadios de creme erva doce,
porque ele, como sempre, esquece de avisar que ainda não secou. Gritei do
banheiro pedindo para que esperasse. Juro, ele conseguiu esperar exatos dois
minutos apenas. Incontestável, após isso, começou a bater descontrolavelmente de novo, como quem
foge da polícia e corre para a primeira casa que lhe parece mais familiarizada.
Quase perdi as estribeiras, porém respirei fundo e corri para atender ao
suposto fugitivo de algo muito sério, ou até mesmo, o anunciante de alguma
morte trágica.
-O que aconteceu?
Perguntei já pálida de tanta curiosidade.
-Oi linda, nada. Por quê?
Respondeu calmamente enquanto me beijava e me esmagava
com um abraço, como se não tivesse feito teatro nenhum em minutos atrás. Virei
de costas e fui para o quarto me vestir, afinal eu tive que largar o chuveiro e
sair molhando a casa toda, a sala e meu tapete, por causa da pressa assustadora
que no fundo não significava nada. E ele ainda teve a audácia de me perguntar o
porquê de eu estar apenas de toalha. Evitei maiores problemas e só disse que
não era por nada, também. Então ele me seguiu e rodopiou o quarto atrás de mim. A cada passo que eu dava procurando qualquer coisa para vestir, lá estava ele, até que sem perceber
seus passos leves, demos uma esbofeteada sem querer e me irritei:
-Mas o que está acontecendo?!!
Assustado com minha performance canina, sentou e me pediu
para sentar ao seu lado. Eu poderia ter imaginado um milhão de coisas. Mas
acreditem, não imaginei nada. Minha raiva já estava transparecendo em meus
olhos sem distinção correta de cor. E como ele já me conhecia bem, sorriu. E
perguntou:
-Sabe que dia é hoje?
-Segunda.
-Sim. Mas sabe o que aconteceu comigo hoje?
-Não?!
-Eu descobri umas coisas sobre você.
Pasmei. De branca devo ter ficado colorida. Será que ele
descobriu que eu menti para ele quando telefonei com número desconhecido dando as mais bizarras cantadas e
depois disse que era minha irmã? Será que ele descobriu minhas fantasias mirabolantes? Que a mãe dele me conta tudo a seu respeito, desde o
banheiro ensopado até o guarda-roupa bagunçado? Viajei até os meus mais
consideráveis maus passos, até o dia em que nós, por puro acaso do destino, ou do
amor, nos encontramos. E perguntei cuidadosamente:
-Como assim?
Era a pergunta que mais parecia fazer sentido.
-Descobri amor, que o caminho que nos levou até àquele
banco da praça principal foi mais que o que pensamos. Que o que fez com que você
sorrisse para mim, foi muito mais que o inusitado. Algo sem definição. Mas eu
descobri que o que nos deixou com corpo, alma e coração tão grudados assim, não
foi apenas a vontade de estar com alguém. Porque poderia ter sido qualquer
alguém. Mas foi você, fui eu. Nós dois. Você consegue entender?
E eu meio tonta ainda com tamanho entusiasmo, antes
mesmo de pensar no que responder, continuou:
-Eu descobri que o que antes era novo, hoje tornou-se a
semente para que o fruto do nosso amor seja bem lembrado e contado amanhã. Que
mesmo com todos os nossos defeitos, tornamo-nos concretos. Completos.
Meu coração parecia que ia pular para fora e entrar no
primeiro cartório e dizer sim para aquele homem que estava bem à minha frente – caso ele quisesse, é claro. Foram mais de três anos – maravilhosos – ao seu
lado, mas ele jamais teria chegado àquele estado de êxtase assim do nada. E
meio que sem saber o que dizer, eu perguntei sem querer – na brincadeira:
-Nossa meu amor, onde foi que leu isso tudo?
Poderia não ser a melhor coisa para se dizer naquele momento, porém a surpresa espantosa foi muito maior.
-Caramba! Não poderia fingir que pelo menos isso você ainda
não tinha visto em um desses livros de romance que você consegue comer em três
dias?!
Concretizou ele, com o maior ar de decepção que já havia o visto ter.
Meu coração parou e voltou a bater três vezes mais rápido. Boquiaberta era pouco para expressar o tamanho do colapso nervoso que eu acabara de entrar. E então, percebi sua carinha de cachorrinho na
chuva:
-Desculpa. Eu só
queria te impressionar, hoje, dia dezenove.
Sorri. E seu semblante melhorou da água para o vinho.
Respondi:
-Você não precisa ler as mesmas coisas que eu para me
impressionar, amor. Você já faz isso sendo você mesmo. E é por isso que hoje,
dia dezenove, torna-se tão especial.
Ele me abraçou firme, e por trás de mim ainda, reclamou:
-Droga, demorei um dia inteiro para decorar essa porcaria!
-Mas e a parte do banco da praça?
-Foi coincidência.
"A única pessoa que você deve querer impressionar é a si mesmo. O resto que se impressione com o que você verdadeiramente carrega de melhor."
-Sâmela Faria
4 Recados
Ameeeeeeeeeei , muito profundo.. e essa ultima frase entao?
ResponderExcluirBeeijos, ♥
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Obrigadaaa Luana!!
ExcluirVolte sempre viu?!
Beijos ♡
Nossa texto maravilhosos rsrs, essa ultima frase show show... Parabéns bjss
ResponderExcluirObrigada linda! ♡
ExcluirVolte sempre!!
Beijos
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