#Crônica: Inexistência
Faleci. Houve uma explosão de emoções que derreteram tudo
por aqui. Mal pude ver o dia nascer novamente, e antes mesmo da escuridão
retornar e pousar sobre a Terra, eu já não mais existia.
Perante os escombros restantes que pude observar no chão da
sala, uma flerta de luz transpareceu sobre mim. Havia muita bagunça e não mais
solidão. Não mais sorrisos também. Nem alegria e dor.
Já passavam das seis da manhã e eu não havia sido retirada
dali. Estava aos tropeços da casa, jogada, sem preocupação. Havia curiosos,
familiares e alguns conhecidos. Alguns com lágrimas nos olhos e outros com
aquele olhar de surpresa e espanto, procurando vestígios pela casa. Mas ninguém
estava querendo saber de mim.
Afinal, eu já não mais importava a ninguém. Talvez, até já
tivesse sido importante. Poderia haver conclusões certas, ou até mesmo
duvidosas. Porém, ninguém queria saber. A preocupação ali era somente os
vestígios inexistentes jogados pelos cantos. E ao lado do meu corpo, havia um
copo de água, era daí que partiam as maiores informações. Remédios constantes?
E como o copo havia sido intocado?
Talvez, isso não devesse fazer parte das investigações.
Aliás, quando foi a última vez que alguém entrou naquela casa? As janelas já não
mais abriam. As cortinas amareladas de tamanho envelhecimento. Já não havia paz
por ali à alguns dias. E o que no fundo poderia ter causado minha morte súbita?
Era o que todo mundo se perguntava. E de repente, chegou o
carinha da noite passada, sendo o principal suspeito. Como se eu fosse me
deixar arredar por um idiota qualquer. Foi ele quem me tirou o riso, e me
chamou para dançar primeiro. Eu não tive culpa. Só queria um pouco de ar livre,
de rodadas ventosas e iluminadas vibrações. Poderia estar em um lindo lugar
agora, mas eu estava arrasada e presa em meu corpo desvendado.
Besteira. Nada mais poderia me preocupar, mas preocupava.
Como pude ir sem ao menos ter tido uma despedida? Nenhum telefonema. Nenhum
e-mail. Nenhuma batida na porta. Nada de passos rasos e nem inteiros. Os dias
se foram definitivamente. Entretanto, o que ninguém sabia mesmo, é que eu havia
estado por ali aquele tempo todo à espera de uma chegada inesperada. Só agora
com aquele copo de água no chão da sala sobre o tapete que me apoiava à alma,
perceberam minha existência. Que agora não mais existia.
Às vezes, tudo o que nós precisamos, é de um simples gesto de afeto, como dizia Charlie Brown Jr. “Isso faz falta no dia a dia”.
-Sâmela Estéfany
2 Recados
Nossa, super profundo. Ah acho que todos nós já passamos tempo esperando nem que seja um simples abraço , isso faz toda diferença no nosso dia. Gostei muito. Beijos
ResponderExcluirwww.brrendacaroline.blogspot.com
Faz completa diferença! Obrigada Brenda!
ExcluirVolte sempre viu?!
Beijos
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