Aquele tipo de gente

by Sâmela Faria - julho 24, 2014

Gente é gente tão diferente, que só de pensar dá um nó na garganta da gente. Há quem goste de ovo frito, e há quem o prefere cozido. Eu gosto de todos os jeitos. Há quem goste de arroz fresquinho e há quem o prefere frio e agarrado na panela que só desgruda raspando. Eu como de qualquer forma. Existem aqueles que não comem frutas verdes, apenas as maduras, eu como as duas. Há quem diz apenas um “Oi” no bate-papo, eu prefiro dizer um “Olá”. É mais simpático. E aqueles que preferem mais a noite que o dia, ou mais o dia que a noite? Na minha cabeça, são um conjunto, e um não existiria sem o outro no mundo.

Gosto de gente sem frescura, sem negatividade integrada, sem andar armado para tudo. Gente que tem estrutura pra ser gente. Sem precisar ouvir um “Vamos” e mesmo assim estar junto. Gosto da gargalhada sem sentido, sem motivo e até mesmo do nada, daquelas que chamam atenção e todo mundo se infecta e começa a rir também sem saber o motivo. Gosto dos pés que andam juntos, mesmo sem saber a direção. Gente que chora na hora de um filme emocionante e berra quando nos debatemos a um suspense trágico. Gente do tipo da gente, que sabe dizer um “eu te amo” sem precisar de cerimônia. Que sabe estender a mão e dar carinho a qualquer hora.

Gente que vai até o fim só porque existe a possibilidade de vitória. Gosto de ouvir um “você é capaz” na hora em que não há mais esperanças. Gente que dá um sorriso pra gente. Que grita em meio à multidão para demonstrar afeto. Que corre na hora da chegada para dar aquele abraço apertado. Gente sem preconceito. Que ri e chora ao mesmo tempo. Que pensa em dar um soco na cara, mas que no fim, pede desculpas. Que liga no meio da noite para saber se está tudo bem. Gente que sente pela gente. Que demonstra ser gente.

Aquele tipo de gente que chega atrasado já se desculpando com brincadeiras bobas, e que dessa forma quebra de cara a tensão do atraso. Aquele tipo de gente que troca o canal na hora de mais uma desgraça no jornal. Aquele tipo de gente que adora pipoca, mas que não ligaria em comer cachorro-quente. Que não bebe refrigerante, mas que não esquenta em tomar vez em quando porque está todo mundo junto. Gente que não chega já querendo ir embora. Aquele tipinho, que te cutuca de leve até perceber seu ponto fraco. Esse mesmo tipo que chega junto quando se precisa de algo.

Gente que vive como gente. Gente que sabe ser apenas gente. Que lida com todo mundo sem usar máscaras. Sem precisar esconder o que sente. Sem se limitar a viver por causa de decepções passadas. Gente que grita de medo no meio da noite, mas que ao mesmo tempo passa proteção. Que dorme sorrindo ao lembrar boas lembranças. Que não esquece seu aniversário e ainda te faz uma surpresa inesperada. Que lê e sabe interpretar de alguma forma.

Gente que escuta músicas se remexendo devagar. Que presta atenção no que você diz e ainda bate de frente quando a opinião é contrária, sem desrespeitar a sua. Gente que seja como a gente. Que brinca, que corre, que luta, que trabalha, que estuda. Que curte romances, gibis, músicas clássicas, ou rock. Que chuta, que bate, belisca e irrita. Gosto do gosto de gostar da gente. Gente que larga tudo pela gente. Que sente, que incendeia, que cuida, e que ama. Que não nos troca por nenhuma outra gente. Gente que gera gente, apenas por saber ser gente.

-Sâmela Estéfany