letras, palavras, memórias… sentimentos, desejos secretos e pensamentos sombrios. lágrimas que secaram. vazio que se instalou. café que esfriou. noite adentro. dia que corre. coisas não ditas. coisas ditas demais. escape em dizeres que machucam. música que faz chorar. momento de revirar o mundo de dentro para fora.
é um pouco do que sinto quando estou escrevendo.
parece fora de ordem. parece fora de contexto ou sem sentido algum. mas é que escrever me guia por uma revolução de dentro. uma convulsão interna. às vezes, faz frio de congelar, de nenhuma palavra sair. às vezes, faz calor, de fazer o coração revirar e as palavras serem cuspidas em vez de escritas.
é que escrever me faz vomitar.
é intensidade imensurável. vomito frases, reclamações, pensamentos, palavras não ditas e outras ditas já muitas e muitas vezes. coloco para fora o que eu nem sabia que estava aqui dentro.
é que escrever me despedaça, me fere, me faz sentir, sentir, sentir, sentir… para depois, só depois, me reconstruir.
cada dor, cada lágrima, cada tudo se desmancha e vira uma forma estranha de Sâmela desconhecida. despida. desconstruída. renovada.
o que eu sinto quando estou escrevendo?
que sou livre. totalmente livre naquele espaço, no papel em branco. livre para o que eu quiser. sem amarras. sem padrões. sem lições. sem regras. sem nada. e com tudo.
quando vou tomar banho, retiro toda a minha roupa com pressa de entrar na água. quando estou escrevendo, peça por peça se vai sem eu sequer perceber. fico nua e ninguém mais pode ver. o momento é todo meu. é quando mais me sinto, me ouço, me entendo e desentendo. me reconheço. me perco.
quando estou escrevendo… convulsiono. me desfaço. me liberto. me torno outra. aquela que eu sabia que estava ali, mas não encontrava.
as palavras me trazem à vida.
PS.: Esse texto foi escrito com base no "livro" de 100 desafios de escrita criativa. Meu desafio era escrever o que eu sinto quando estou escrevendo.