A saudade é uma miragem
Postagem coletiva do grupo Escritores da Era do Compartilhamento da qual participo, o tema para o texto é SAUDADE.
Já
ouviu falar da saudade? É claro que já. Todo mundo já chorou uma dor, já quis
sumir do mapa ou já sofreu por amor. Todo mundo já passou pelo simulado da
culpa, do orgulho e do temor, mas ninguém lembra mais a nota que tirou. Porque
doeu, porque machucou. A falta tem os mesmos sintomas. A gente lembra a
história inteirinha, desde as primeiras palavras até as últimas. Mas ninguém
quer saber o porquê de tudo, e sim o porquê de não mais existir. A gente sabe
como, mas não aceita. Não acha justo. E quem disse que seria?
Aí
a saudade vem e com ela vem mais alguém. Alguém que causou manifestação de
alegria e também de ira. Alegria ao chegar, porém ira ao ir. Mas é assim: todo
mundo, um dia, se vai. Se não é pela esquina da vida, é pela esquina da
eternidade. E a gente vai ficando aqui o quanto ainda tiver que ficar. E no
meio disso tudo, tocar a vida pra frente, torna-se o nosso maior desafio. Vamos
vivendo de falta aqui e mais um pouquinho ali, sem hora pra chegar e sem a
menor data prevista pra sair.
Sinto
saudades. Digo isso e choro feito criança quando perde o brinquedo que a mãe
comprou com carinho. É que, de fato, nunca estaremos preparados pra perda e o
pior de tudo é saber que ela nunca acaba. Vivemos ganhando aqui, mas perdemos
sempre mais um pouquinho ali. Se não é a idade, é a ingenuidade. Se não são as
pessoas, são os sonhos. E se perdemos os sonhos, perdemos o prazer de viver, mas
continuamos vivendo. E a gente acaba aprendendo que a vida é feita de eternas
saudades. Saudade daquilo que quebrou e que tinha muito valor. Saudade de
alguém que se foi com o tempo, com a injustiça, com a própria vida. Saudade
daqueles que viraram a esquina e nunca mais vimos voltar. Saudade dos que foram
até ali na frente e não mais eram os mesmos. Tornaram-se outros. Porque, a vida
é isso: mudança repentina.
A
saudade é uma miragem, algo que você vê, sente e até chora, mas não pode tocar.
Uma
boa miragem, mas que dói muito. É que reviver o passado já não é mais o meu
objetivo e o que faz parte do passado, já não tem mais espaço aqui no presente.
Criei intolerância com as idas. Injusto, porque ainda dói. A saudade, meu caro,
é estrondo. É transtorno fora de hora. É constância fora de casa em qualquer
mero espaço. É música no último volume de fazer com que o modo aleatório entre
em modo de repetência. É lembrança repentina e dor mal curada. É um ponto final
mal escrito, uma palavra mal soletrada, uma história mal terminada. É a perca
irreparável e que dói mais que tudo. É querer buscar um sentindo na vida e
encontrar a angústia de uma noite mal dormida e de um dia mal vivido. Sentir
saudade é não se entregar a vontade de pular de um penhasco, mas decidir viver
mesmo sabendo que a luta pela vida será bem mais difícil. Porque a saudade traz
de volta tudo aquilo que você viveu e que, por algum motivo brusco, não pode
viver mais.
A
vida é uma colcha retalhada com histórias. E em cada nova costura, se cria um
novo trajeto, uma nova forma, porém ganhamos mais novas saudades também. Sinto
falta de sentir saudade apenas dos brinquedos que quebraram, porque, hoje,
sinto saudade de coisas que fazem quebrar um coração inteiro.
Sâmela Faria
Insta: @samela_faria / Twitter: @samelaestefany / FanPage
Abaixo você encontra outros escritores que também participam do grupo e que participaram dessa postagem coletiva, vale a pena dar uma conferida nesses lindos aí (vou atualizando conforme os outros amiguinhos forem postando):
Queria te guardar em mim - Leca Lichacovski
Saudade da infância tem cura, doutor? - Tatiane Argenta
Eu sempre gostei de plurais - Nathalia Moraes
Saudade tem sua beleza - Joany Talon
De repente amor, te esperar terminou... - Juliane Rodrigues
Tatuei na pele - Maria Fernanda Probst
11 graus de frio e saudade - Tamyhe Engler
A renda e as pedras - Taciana Gaideski
Devaneios de uma saudade de domingo - Cristina Souza
Traduzo a saudade em forme de você - Pâmela Marques
Tô com saudade dela - Fábio Chap
Pôr do sol - Tayne Sanschrí
Entre estrelas e saudades - Fernando Suhet
De cama vazia - e coração também - Cintia Gomes
Aquele "adeus" que mais pareceu "até logo" - Allison Christian
Sobre saudade - Mariah Alcântra
Sobre tudo o que a gente não foi - Sâmia Louise
A Saudade dos outros - Denise Carvalho
4 Recados
Oi Sâm, minha quase xará, me vi nesse texto teu. Por inteiro. Saudade é tudo isso mesmo. E apesar de doer a gente sempre quer senti-la. Acho que ela dá sentido à vida.
ResponderExcluirHaha. Quase xará! <3
ExcluirPenso assim também Pâm, não sei o que seria de mim se não sentisse saudade dos momentos que já vivi na vida.
Volte sempre!
Beijos,
Sâm.
Seu texto lindo, me fez pensar muito numa coisa. A saudade é um sentimento bom, apesar de tudo. É tão contraditória, vem acompanhada de lembranças enquanto estamos sozinhos, é injusta mas e gostosa... Lindo texto, parabéns!
ResponderExcluirO problema da saudade está na intensidade! Hahaha.
ExcluirObrigada Nath, fico feliz que tenha gostado!
Volte sempre.
Beijinhos
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